Crônicas Anacrônicas
Crônicas e outras historinhas infames. Mal-humor, humor negro e outras coisinhas patológicas. Leia, reflita se for o caso, e não me amole.
domingo, setembro 22, 2024
segunda-feira, maio 20, 2024
Nós todos temos um fraco por histórias. desde que inventamos as palavras, gostamos de contar e ouvir histórias. Reunidos a beira do fogo para fugir do frio e da escuridão da noite de um mundo hostil e misterioso. Então todos as noites, a tribo reunida, ouvia os anciãos contar sobre a origem do mundo, da benevolência e do caprichos dos deuses, da sabedoria ou imprevidência dos reis, dos atos de coragem e esperteza dos heróis, as reminiscências de algum paraíso perdido.
E enquanto havia apenas a tradição oral as histórias iam passando de geração em geração em geração, de grupo a grupo, cada uma dando suas cores locais as narrativas. Não que a escrita tenha cristalizado " o contar", mas exigia menos das memórias prodigiosas e dava certo grau de estabilidade a narrativa. Mas continuamos a contar contos e aumentar alguns pontos.
Dessas histórias "pré-históricas" ou pré-escrita, há sempre motivos recorrentes e populares. O que dizer da disputa de irmãos de sangue ou de armas? A tríade Osíris/Seth/Horus egípcios? Macbeth? Rei Leão? Esaú e Jacó? Mahabarata?
Ou o amor proibido entre dois jovens? Quantas vezes conseguimos recontar Romeo e Julieta e suas versões? Quem nunca ouviu falar desta história?
Mas é como diz o livro de Eclesiastes, não há nada de novo sob o sol. E me recordo da uma professora de literatura que dizia: "Original só a serpente". Desde então vamos repetindo e dando nossas versões a lábia do tinhoso.
sábado, março 30, 2024
Dos feriados nacionais, um dos que eu mais gosto é a Páscoa. Vivendo em uma tradição judaico-cristã, mesmo não tendo aderido a nenhuma das linhas, há muito a aproveitar. Não falo dos ovos ou outras paganices sorrateiramente inclusas. Eu gosto é das histórias e simbolismos.
A páscoa judaica, ou Pessach, ou ainda "passagem", rememora a saída do povo judeu da escravidão no Egito. Perceba, eles ganharam a liberdade e passam 40 anos no deserto em busca da terra prometida. E Moisés; coitado; ainda foi barrado de lá entrar por que fraquejou em sua fé. Assim é o demiurgo do velho testamento...
A páscoa cristã segue a mesma linha: Jesus, o cristo, se liberta da prisão da carne fazendo sua passagem, não sem antes passar pelo seu calvário cheio de dor e humilhações. Perdoa-nos. Não sabemos o que fazemos.
Então a páscoa para mim é cheia de significados e lembranças. Fui liberto em mais de uma ocasião, só para ser jogado no deserto. Mas as coisas acham seu caminho. Não acho que estou na terra prometida, mas já caminhei muito e a vida se transforma o tempo todo. Só espero estar ficando um pouco mais sábio. Mas tenho sérias dúvidas sobre isto.
domingo, fevereiro 25, 2024
O que acontece quando " a ultima luz se apaga"? A resposta óbvia é que o corpo se desfaz e retorna ao pó. Salvo se for mumificado, saponificado ou congelado. Então o corpo vira um tesouro para a ciência ou a religião.
Mas o corpo é de mais interesse dos vermes, abutres e chacais. Afinal, o que aconteceu com o homem preso aquela carcaça?
A primeira divergência, vem da dúvida da existência da alma, ou algo que transcende a existência material. Para alguns, acabou-se o corpo e seus ilusões eletroquímicas, acabou-se a existência. Para outros há algo imaterial que dá continuidade á existência.
Dos "imaterialistas" há dois tipos básicos: Existências carnais únicas ou múltiplas. Mas no final das contas com o mesmo objetivo, cumprir certos pré-requisitos, para ser considerado justo e merecer o retorno a algum "paraíso perdido". Os critérios variam... fé, boas ações, feitos heroicos, desprendimento material, compreensão da realidade...
No geral há alguma forma de julgamento seja no post mortem imediato ou em algum momento do Juízo Final, uma espécie de tribunal dos final dos tempos. Por vezes o tribunal é composto por criaturas místicas, por vezes o processo é mais pessoal e discreto.
O paraíso recebeu vário nomes: Valhala dos Vikings, campos Elísios dos Gregos, o Jardim do Éden judaico-cristão, o campo de Juncos (Aaru) egípcio, ou o nirvana Budista. Nem todos se referem a lugares mas as vezes a estados de libertação do mundo físico.
Há também locais/situações de castigo, embora nem todos sejam definitivos. há nosso conhecido inferno, o purgatório, o Sheol, Gehenna, o tártaro, Helheim, Irkalla o Umbral e o sansara. Nem todos são definitivos e as e as punições variam. Por vezes é só um lugar para aguardar julgamento, por vezes um local de purificação e mortificação até o merecimento. Pandora e sua caixinha, e nossa eterna esperança que podemos ser salvos...
A teologia cristão nos brinda ainda com uma instância ainda mais curiosa... o limbo. Como podem ser condenados aqueles que não tiveram oportunidade de cumprir os requisitos? Se aplica a crianças natimortas e virtuosos poetas pré-cristãos. Injusto o inferno, mas sem critérios para o paraíso. Aí temos o limbo, uma espécie de lugar nenhum. Ah a teologia.... criando soluções engenhosas para problemas que não existem...
O que eu acredito? Como cético pirronista, em nada e em tudo. Mas tenho esperança que os materialistas ou os hindus estejam certos. Que a existência se desfaça em nada ou se dissolva no supremo absoluto, dando um basta nessa babojada material.
segunda-feira, fevereiro 12, 2024
domingo, janeiro 28, 2024
Rubicão
A nordeste de Roma, havia o Rio Rubicão. Havia, não por que deixou de existir, mas por que a história é cheia de omissões e diz que me diz. Hoje talvez seja o Fiumicino. Divagações.... O fato é que a presença de minério de ferro deve ter originado seu nome e que era o limite da província romana.
A lei Romana da época, proibia qualquer general romano de atravessar o Rubicão com suas tropas, sendo este ato considerado uma ameaça a Roma.
Em 49 AC, Julio César atravessou o Rubicão, levando a uma guerra civil e posteriormente a sua condução a imperador. "Alea jacta est", disse ele.
Hoje atravessar o Rubicão é tomar uma decisão sem volta e que muda o destino dos envolvidos. Os americanos se referem a isto como "point of no return".
sábado, janeiro 27, 2024
Daemon
Sir Ernest Shackleton, na sua fase final de sua atribulada expedição a Antártida, descreve uma presença incorpórea, que oferecia ajuda e encorajamento. Muitos outros, em situações similares- exploradores e náufragos- relatam experiências similares.
Desde a antiguidade muitos relatos e explicações para tal situação. Espíritos, guia, anjos da guarda, daemons. O conceito é simples e ubíquo. Uma entidade incopórea, mística ou não, (anjo, espirito dos antepassados ou heróis de outrora, animais, fadas ou grilos falantes por exemplo) que se comprometem a guiar ou auxiliar alguém durante sua jornada de maneira temporária ou permanente. Há também aqueles que compartilham o caminho, mas cuja ajuda é sempre duvidosa...
A ciência e seu saudável ceticismo tenta explicar. Alguém postulou a hipote4se de uma "consciência bicameral", como se a mente tivesse várias instâncias e elas se comunicassem sem a consciência uma da outra. Algo não muito diferente da esquizofrenia. Poderia o stress extremo nos fazer dissociar? Há obviamente divergências e controvérsias.
O fato é que temos vozes na nossa cabeça. Seja uma experiência mística, uma adaptação ao ominoso ou sinal de loucura. A explicação vai sempre de acordo com a preferência do cliente, A vida continua um mistério.