sexta-feira, novembro 02, 2001

No meu pequeno tempo ocioso em PL, sentado no cruzamento mais movimentado do município, bebericando e contando mentiras, tenho uma vista privilegiada dos eventos e personagens da cidade. Personagens como os cães, vadios como devem ser os cães e outras criaturas das ruas.
O cão mais notável de todos é Pilatos (pelo menos é como o chamamos. Tenho esse estranho hábito de nomear cachorros de rua que eu encontro com certa regularidade) Durante o dia é visto dormindo na porta de estabelecimentos comerciais, tranquilo e nem aí para a vidinha dos homens. Mais a tardinha é visto manquitolando pelos botecos. Uma de suas patas foi inutilizada em algum evento pregresso traumático e ele vem arrastando-a. Do acidente carrega também um cansaço impensável para um cão. Dá para ver as costelas indo e voltando enquanto ele respira. Parece até que tem asma crônica. Tem o couro atigrado como esses bagrinhos que se pescam por aí. Apesar de vadio e magricela não gosta de batata fria, chegando inclusive a rejeita-las com ar de desprezo. Dizem que em certas noites de lua recupera o viço e o porte, parecendo o Carlos Alberto Richelli dos cães, para seduzir as cadelinhas sem maldade. Igualzinho ao boto.
Outra cadela interessante é a Pam. Ela é dessas que perseguem carros, latindo desvairada. Nada de espetacular até aí. Milhares de cães roceiros perseguem carros. A particularidade da bichinha é persegui-los ali, no cruzamento principal de PL, incansavelmente, diariamente e sempre no mesmo horário. Deve ser algum tipo de hobby.
E o último cão merecedor de nota é Della Rua. A turma da cidade chama ele de Da Rua. Eu prefiro a versão que homenageia nossos tão simpáticos vizinhos. Mas enfim, é um bruta cachorro preto que também circula pela vida boêmia, mas que bebe cerveja em copo lagoinha. Já anda meio roliço e dizem que o fígado já está podre. Mas para mim ele parece bem saudável.

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