domingo, novembro 25, 2001

Olhando bem a história canina daqui de casa, acho que todos os cães que por aqui passaram tem personalidade. Ou talvez todos tenham, basta prestar atenção. Certo é que eles também tem hábitos e maneirismos individuais.
O primeiro cão foi Rambo. Era um pastor capa-preta saudável e exemplar. Não tinha frescura com nada, caçava e comia de tudo, incluindo gatos, ratos e o que aparecesse. Chegou até a pegar pássaros em pleno vôo. Mas não podia com trovões ou foguetes. Virava uma maria mijona, batia desesperado nas portas e se permitido, escondia debaixo da primeira cama que visse. Final de campeonato e o dia da assunção de Nossa Senhora era batata. Tinha o hábito de ficar pulando no muro com as patas dianteiras, como se fosse realmente escala-lo, quando a vítima estava fora de seu alcance. Numa dessas estripulias, torceu o estômago e nunca foi mais o mesmo. Dizem que os pastores-alemães tem o estômago meio frouxo e ele torce, facim, facim. Se você já estudou embriologia é capaz de entender como é. Aquela história da rotação intestinal e tal, e que o estômago não está dependurado no esôfago e coisas do tipo. Morreu logo depois...
Como as coisas não iam bem com Rambo I, providenciaram um novo cão. Veio então Teca, nomeada por minha avó em homenagem a uma personagem de novela. Segundo minha vó ambas eram insuportavelmente chatas. Mas Teca chegou miudinha e sem o tampo da cabeça. Sua mãe, que era uma Dobberman, o havia arrancado. E ela cresceu medrosa e mijona. Principalmente nas visitas ao veterinário. Mas ficou robusta e roliça e também ficou adepta da caça. Tinha gravidezes psicológicas, dava leite, infeccionava, era um negócio... Demos a ela inclusive um tigre de pelúcia, desses que vem com cereal e ela prontamente o adotou como filhote. A solução definitiva só veio com a histerectomia. Era um cão dedicado, não arredava o pé se eu ou me pai estivesse no quintal. Mas não era muito brilhante, só conseguia abrir a porta se estivesse do lado certo dela. O que não é tão grave se você considerar que eu tive várias pacientes no Odilon Behrens que também não conseguiam. Pegou Leishmaniose, emagreceu muito, ficou amarela e nem parecia mais o mesma cadela. Tivemos de sacrifica-la.
Com o sucesso de Rambo I, minha tia ainda nutria uma certa paixão por pastores-alemães. Foi por isso que voltamos a investir na raça. E veio então Rambo II. Mas esse não tinha nada a ver com o primeiro. Magricela, desajeitado, não se interessava em caça. Muito inteligente e epiléptico. Também não se interessava por sexo (conviveu com Teca muito tempo) e chegava a agachar para fazer xixi. Meu irmão chegou a achar que o cachorro era afeminado. Um veterinário disse que ele tinha artrose nos joelhos, o que dificultava tanto os hábitos urinários quanto os sexuais. Outros diziam que Teca era muito geniosa, uma cadela difícil e que de certa forma (ela era muito bruta, coitada) inibiu o desenvolvimento de Rambo II. Mas hoje, revendo essas coisas todas acho que ele realmente não levava muito jeito pra macho não... Mas suas crises epilépticas foram ficando cada vezes mais difíceis de se controlar e um dia entrou em status epileticus e tivemos de sacrifica-lo.
Hoje temos Piti, um vira-lata que não é amarelo. Muito esperto e sem vergonha, quer morar dentro de casa e com gente por perto. Pula feito um diabinho e continua mijando no pé dos outros de pura emoção. É o primeiro a anunciar quando eu chego em casa. Tem o estranho hábito de gostar de passar em lugares apertados e gosta de correr por sobre a lona que cobre a piscina. Não dispensa seu cobertor e prefere andar vestido a pelado. Pena que a roupinha já não cabe mais. Como a maioria dos cachorros, come qualquer porcaria que encontra, só para vomita-la logo depois. Estou aguardando ansiosamente que ele amadureça e me dê um pouco de sossego.

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