sábado, dezembro 31, 2005

Diz uma lenda aí que se você estiver em um ponto hipotético sobre o polo norte a observar a terra, ela estará se deslocando no sentido anti-horário. Muito antes pelo contrário, se este ponto hipotético estiver sobre o polo sul, observar-se-á a rotação da mesma no sentido horário.
Entretanto, se você estiver sobre qualquer ponto real sobre sua superfície, vai constatar atônito que a terra se desloca exatamente no sentido contrário ao que o observador se desloca! Algo de muito útil portanto, já que podemos girar a nosso bel prazer das nossas pequenas possibilidades. Excetuando é claro se você se encontra dentro de um porta-mala, com dois marmanjos armados se divertindo com seu cartao de crédito no banco da frente. Neste caso, todas as observações acima são quase irrelevantes.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

De uma coisa me convenço a cada dia. A civilização chegou onde chegou graças ao gênio de uns poucos e ao medo de muitos.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Descendo de linhagem nobre. Meu pai foi um grande campeão. Temido e invejado por todos. Um verdadeiro padrão da raça. Minha mãe uma entre tantas. Irmãos, um verdadeiro rebanho. Na tenra idade, me foram arrancados os sonhos, a chance de ser grande como meu pai. Que nem sequer sabe de mim. Ou de si. É quase uma máquina. Ainda jovem, sacrificado aos deuses sedentos de sangue num ritual macabro de extermínio em massa, cheio de mutilações e rituais bizarros.
Após uma breve existência, meu destino é me acumular nas artérias de alguém, e a ele garantir o meu infortúnio, nessas ironias que só o destino saber fazer. Uma vida precocemente encerrada, cheia de possibilidades não realizadas.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Diz uma lenda folclórica da zoologia que o avestruz quando se sente amaeçado, enfia a cabeça em um buraco para se esconder do mundo. Pensamento mágico? Ou é um comportamento comparável ao de uma criança pequena que de fato acredita que o que está fora das vistas está fora da existência?
Seja como for, toda vez que o avestruz esconde a cabeça, deixa a mostra sua enorme e indefesa bunda.
E é capaz ainda de ser posar de vítima...

terça-feira, dezembro 20, 2005

Eu acredito muito mais nas coisas assimiladas pela experiência do que nas adquiridas de outras formas. Por exemplo, acredito muito mais na sinceridade de um crente convertido depois de velho do que um que nasceu no seio da igreja. Acredito muito mais em comunista que tem vida confortável do que aqueles que passam dificuldades.
Muita gente é o que é apenas por conveniência ou hábito.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

A poesia, quem diria, está morta. E já faz algum tempo. E não foi só por aqui. Já vinha mal das pernas, coitada. Foi perdendo prestígio, foi perdendo espaço, quando assustou já não saia mais de casa. As pessoas não deram a mínima, ninguém deu falta. Afinal ninguém lê, afinal ninguém escreve. Morreu sozinha e abandonada, talvez nem tenha sido enterrada... Das glórias ainda resta algum conhecimento, mas desses malucos aí que não tem o que fazer. De tão obscura que está ficando, não demora a qualquer dia, voltar a moda.

domingo, dezembro 04, 2005

Hohoho... Me parece que o natal está se aproximando. As coisas assim me dizem, já que me encontro, de bom grado, à margem dos meios habituais. As ruas estão apinhadas de gente correndo, as pessoas estão com pressa e de mau- humor. A tolerância está quase esgotada onde quer que eu vá. Multidões se espremem para tentar satisfazer com as compras aquilo tudo que faltou no ano. Afinal, natal é sagrado.Ruas lotadas, os trombadinhas se fartam. Filas, tumultos, luzinhas e barbas postiças. Só sei que acabou quando acordo de manhã, a cidade encontra-se deserta e silenciosa. Cumprido o ritual, a turba ruma ao litoral, me deixando aliviado a guardar a cidade semiadormecida.