quarta-feira, novembro 15, 2006

Laços de família

É curioso reparar nas coisas que dão união aos grupos familiares. ponho reparo na família de minha mãe por exemplo. Treze irmãos, personalidades distintas, rinhas entre alguns membros, mas obviamente permanecem família. Mas há uma linha mestra, um roteiro geral. Além da soberba e da tendência a beligerância, fruto de uma mistura lusogermânica, temos também uma forte tendência à doença ulcerosa péptica. Doença alías já documentada em nove dos treze, sendo que quatro se recusam a se submeter ao tão desagradável procedimento conhecido como endoscopia.
As ulcéras pépticas, alías, me propiciaram uma oportunidade única, a de conhecer meu tio mais velho, Tião, carinhosamente apelidado de Urtigão pelos seus, graças aos seus pronunciados hábitos misantropos e isolamento, que permanecem até o momento. Vivendo isolado no Carapés, fazenda da família em algum rincão do vale do Jequitinhonha, me faz o favor de perfurar a sua úlcera. Após uma atribulada visita a Diamantina, é enviado à nossa casa, na época referência absoluta dos problemas familiares, para recuperação.
E então, eu ainda criança, observava maravilhado aquela figura esmilhinguida e desgrenhada sentada à mesa do café, a devorar ovos cozidos e mingau de fubá com queijo. Cumpriu resguardo e se mandou. Nunca mais o vi. Sei que anda refugiado pelo Carapés, recebendo os poucos visitantes a bala.

terça-feira, novembro 07, 2006

Vivo ouvindo dizer que o escultor não esculpe nada, ele apenas liberta da rocha crua a forma que lá estava aprisionada. Balela. Todo inapto aventuroso sabe por experiência que a única coisa que se liberta da rocha são lascas. A coisa exige muita técnica, muita "expertise". A rocha não tem alma, nós é que emprestamos um pouquinho da nossa a ela.
Talvez por isto mesmo temos tantos artistas fracassados e/ou incompreendidos e tanta porcaria sendo aplaudida. Alma não se vende no supermercado.
Apesar de que dizem que dá para vender por um punhado grande de dinheiros.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Estou envolvido e um não sei o que de indiferença. Não, não fiquei autista nem estou mexendo com drogas. Nem tampouco me alienei. Só está um tanto difícil de envolver com a realidade não muito imediata.
Ainda dou fé dos fatos sociais mais relevantes, como catástrofes (políticas ou naturais), acompanho de bem longe o desempenho do meu time, ainda sei quando serão os próximos feriados... Mas fica por aí. Já não me importava mesmo com o mundinho entediante das celebridades, acho que a perda é no "plus"... Mas como o convívio social está precário também...

Ler faz muita falta pra quem sabe fazê-lo.