domingo, janeiro 29, 2006

Alguém* certa vez disse: "Eu sou eu e minhas circunstâncias". Concordo e acrescento: A vida é circunstância e opção. A cada dia acredito que é muito mais circusntância e que nossas opções em verdade se restringem muito, sendo apenas em número de meia dúzia, as outras são apenas consequências imediatas das opções reais. Axiomas e corolários...
Mas as circunstâncias estão fora de nosso controle, então são as opções que nos tornam diferentes uns dos outros e que nos torna também responsáveis pelo nosso próprio destino. Segundo a tradição Judaico-cristã Deus é bom e onipotente, mas dotou-nos do livre arbítrio. Uma explicação bem interessante em porque um ser tão poderoso e misericordioso é impassível aos acontecimentos ao seu redor. Embora ele possa mudar as circuntâncias ele não pode mudar nossas opções... Ou seja, se Ele existe ou não, não importa. O fato é que as coisas não tem o hábito de ir como planejado, para o horror dos obcessivos. Só nos resta perder o apego e mergulhar no caos.


*José Ortega y Gasset

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Ser cético é mais que duvidar das coisas. É mais que cegar-se com a luz da razão. O ceticismo radical também duvida das coisas ditas óbvias. Não é preciso muito esforço racional para não acreditar em bruxas, mágica, simpatias, telecinese, extraterrestres e companhia limitada. O grande esforço é entender que nosso conhecimento é limitado, nossas explicações precárias e o universo imensamente complexo. Embora as coisas sejam improváveis, elas não são necessariamente impossíveis. Veja a vida por exemplo: Há algo mais improvável que reações químicas possam conduzir a vida (semi)inteligente? E no entanto, ninguém refutaria esse fato como verdade.
Ser cético não é duvidar, é compreender que não compreende em verdade.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Outro dia estava cuidando da minha própria vida quando fui abalroado por um motorista destraido. Nenhum dano visível ao meu veículo, dei o assunto por encerrado e fui para o aconchego de meu lar. Tudo aconteceu ali na Bandeirantes, sítio famoso pela pista de caminhada e pelas moças que por ela transitam. Imagino que meu desafortunado companheiro motorista deve ter detido muito atenção a alguma delas, e surpreso não viu como se aproximava do meu carro.
E não somos todos assim? Muito mais interessados (e com razão as vezes...) nos nossos arredores do que nos rumos que tomam nossas vidas?
Equilibrio, sempre o pulo do gato...

quinta-feira, janeiro 19, 2006

- Vai lá e olha 2 pacientes para mim.
- Por que eu faria uma coisa dessas?
- Vai lá. É sua chance de ajudar alguém. Você vai se sentir bem.
- Na verdade eu sou mesquinho. Ajudar os outros me faz sentir mal.
- Vai lá sô. Faça uma boa ação, Deus vai te recompensar.
- Achei que você era ateu.
- E sou.
- Típico... O ateu de verdade sempre muda de opinião quando se torna necessário...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Os chineses tem uma sabedoria especial sobre o sofrimento. Não do próprio, mas do alheio. Suas técnicas primam muito mais pela constância que pela intensidade. Pelo menos algumas das mais famosas... Nós ocidentais gostamos de infligir montanhas de sofrimento, arrancar confissões rápidas, mutilar e deformar. Não que os chineses não gostem dessas coisas, mas eles tem mais paciência. Eles só preferem algumas coisas mais sutis. Ou não, vai saber o que é real e o que é folclore... Mas pouco importa, falo de sofrimento, não de particularidades do sádismo cultural.
Imagine-se tendo de fazer uma marcha forçada de uns 20 ou 30 quilometros, sem parar. e imagine também que você tem uma pequena pedra no sapato, pequena mas estrategicamente colocada. Você não pode retirar os sapatos, vai ganhar chibatadas... No iício a coisa vai indo, é só um incômodo. Mas a cada passo o desconforto aumenta, a cada pisada a lembrança retorna, cada vez mais viva. Não é possível se resignar com uma pedra no sapato... E assim pequenas coisas as vezes se tornam maiores que o mundo.

sábado, janeiro 14, 2006

Eu acho que todos temos "fixações". Aspas necessárias já que por definição, fixação é o apego doentio a alguma coisa. Me refiro as coisas mais corriqueiras. Outro dia fiquei surpreso ao constatar que tinha umas 6 versões de Berimbau, de Baden Powel. Ou quando avidamente dizimei todos os contos do Sabino. E vou me lembrando das paixões "de verão" a que sucumbi ou fui testemunha incrédula. Io-ios, menudos, pokemon, Chico Buarque, chapinha, Feng Sui, regressão a vidas passadas, santo dai-me, pogobol, Latino, fondue, sodoku, casa dos artistas, movimento punk, vinho alemão, papel de carta, kart, cavalos, Harry Potter, Paulo Coelho, e tantas e inumeráveis outras coisas.
O que nos faz interessar tão profundamente (e as vezes por tão breve período) por esses fenômenos? Será que eles nos dizem algo mais profundo sobre nós mesmos? Ou será que são apenas um paliativo contra o tédio do cotidiano? De qualquer forma, acredito que alguns valem mais a pena que outros.