quarta-feira, novembro 15, 2006

Laços de família

É curioso reparar nas coisas que dão união aos grupos familiares. ponho reparo na família de minha mãe por exemplo. Treze irmãos, personalidades distintas, rinhas entre alguns membros, mas obviamente permanecem família. Mas há uma linha mestra, um roteiro geral. Além da soberba e da tendência a beligerância, fruto de uma mistura lusogermânica, temos também uma forte tendência à doença ulcerosa péptica. Doença alías já documentada em nove dos treze, sendo que quatro se recusam a se submeter ao tão desagradável procedimento conhecido como endoscopia.
As ulcéras pépticas, alías, me propiciaram uma oportunidade única, a de conhecer meu tio mais velho, Tião, carinhosamente apelidado de Urtigão pelos seus, graças aos seus pronunciados hábitos misantropos e isolamento, que permanecem até o momento. Vivendo isolado no Carapés, fazenda da família em algum rincão do vale do Jequitinhonha, me faz o favor de perfurar a sua úlcera. Após uma atribulada visita a Diamantina, é enviado à nossa casa, na época referência absoluta dos problemas familiares, para recuperação.
E então, eu ainda criança, observava maravilhado aquela figura esmilhinguida e desgrenhada sentada à mesa do café, a devorar ovos cozidos e mingau de fubá com queijo. Cumpriu resguardo e se mandou. Nunca mais o vi. Sei que anda refugiado pelo Carapés, recebendo os poucos visitantes a bala.

terça-feira, novembro 07, 2006

Vivo ouvindo dizer que o escultor não esculpe nada, ele apenas liberta da rocha crua a forma que lá estava aprisionada. Balela. Todo inapto aventuroso sabe por experiência que a única coisa que se liberta da rocha são lascas. A coisa exige muita técnica, muita "expertise". A rocha não tem alma, nós é que emprestamos um pouquinho da nossa a ela.
Talvez por isto mesmo temos tantos artistas fracassados e/ou incompreendidos e tanta porcaria sendo aplaudida. Alma não se vende no supermercado.
Apesar de que dizem que dá para vender por um punhado grande de dinheiros.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Estou envolvido e um não sei o que de indiferença. Não, não fiquei autista nem estou mexendo com drogas. Nem tampouco me alienei. Só está um tanto difícil de envolver com a realidade não muito imediata.
Ainda dou fé dos fatos sociais mais relevantes, como catástrofes (políticas ou naturais), acompanho de bem longe o desempenho do meu time, ainda sei quando serão os próximos feriados... Mas fica por aí. Já não me importava mesmo com o mundinho entediante das celebridades, acho que a perda é no "plus"... Mas como o convívio social está precário também...

Ler faz muita falta pra quem sabe fazê-lo.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Eu me cansei de política. Erro terrível. Não é por que o agente é ruim que o método é ruim. A política, com todos os seus defeitos, ainda é o melhor caminho para a solução do comum.
Se abster ou não opinar é uma opção ideológica pertinente, entranto, se julgado racionalmente não passa de um tiro no pé. Afinal, se você se cala, alguém irá falar, se você se omite, alguém se apresenta, se você não decide, alguém decide por você.
A grande questão é que o processo político se afastou da vida cotidiana. Acreditamos que a tal da festa da democracia só ocorre durante as eleições. Ledo engano, votar é apenas o começo da vida política. Mas a coisa se tornou tão impessoal, diluida em nossas dimensões continentais e vazios cívicos, que sempre conjugamos os verbos em terceira pessoa.
Haverá remédio para nossa indiferença? Haverá cura para esta enorme manipulação e demagogia? Terão os ideais de bem comum ainda algum apelo que possa comover os tais projetos políticos maquiavélicos?
Eu, constrangido, duvido muito. Não há muito que se possa fazer da frente da telinha azul.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Hoje que eu compreendo que esse negócio de ideologia não existe, muitas situações mudaram de perspectiva.
Por exemplo: aquela reunião de malditos num cu sujo qualquer da zona "boêmia" de qualquer capital a maldizer da vida, execrar o sistema e praguejar contra os vendidos e vitoriosos. Não tem nada de romântico, nem de ideal.
É apenas um bando de desajustados socialmente, completamente derrotados que usam esses argumentos batidos de ideologia para justificar seus fracassos.
Se são tão geniais assim, por que estão tão fundo na lama?
Lutar contra os sitema quando se está a margem é fácil. Quero ver é manter a linha no conforto...

quarta-feira, setembro 27, 2006

Apartamentos são coisas muito curiosas. Eu e minha curiosidade quase mórbida não perdemos oportunidades de perscrutar a intimidade alheia. Portas que se escancaram e revelam interiores.
Não é bisbilhotice. É interesse antropológico.
Imagine você, apartamentos são ideais para estudos desse gênero. Afinal são feitos praticamente idênticos aos seus pares, são em número adequado e ocupados por diferentes tipos de gente. O observador não precisa de muito perspicácia para averiguar que: Em um espaço muito semelhante, ambientes muito diversos podem surgir. Nós é quem temos a maior contribuição à trasformação do espaço.

terça-feira, setembro 12, 2006

Me assuta como muitas coisas não são resolvidas a contento simplesmente por que falta um diálogo aberto e franco. Será que precisamos ter sempre uma pedra na mão? Será que precisamos enxergar todos como possíveis rivais ou inimigos? Precisamos de fato sabotar todos os projetos que não nos dizem respeito?
Ando cansado dessa política velada de sabotagem sistemática. Ainda acho que se uma pessoa cresce, as demais também crescem.
Mineiro não é solidário nem no câncer.

terça-feira, setembro 05, 2006

Olho com bastante desconfiança essa aproximação do marketing com a política. Anunciar candidatos a cargos públicos como produtos me incomoda profundamente. Em uma eleição, o momento é de discutir propostas, rumos, não ficar tentando criar uma ficção em cima de uma potencial autoridade.
A publicidade é sobre vendas, lucros. Deveriamos ter transparência, o mínimo de maquiagem. Nem quero saber qual o candidato que lava mais branco.
Toda esse "jogo de cena" só desvia atenção das coisas que de fato deveriamos estar discutindo. Ainda mais agora, com todas as instituições enlameadas até o teto.

sábado, setembro 02, 2006

Quando os cientistas acabarem de explicar tudo, e descobrirem a lei que rege tudo, unindo todas as forças físicas, ainda assim deixarão algo de extrema importância de fora. Mesmo que se descubra como as coisas são uma só, há ainda uma força que não se encaixa em nada. Sabemos da gravidade, do magnetismo e da eletricidade, mas não sabemos dizer nada sobre a vontade.
A vontade, outra força oculta e misteriosa que modifica o universo, não se assemelha em nada com os outros fenômenos, justamente talvez por não ser uma entidade absolutamente física. As coisas são feitas de particulas e de energia, mas a vontade não.
Sabemos bem a diferença entre uma pedra e uma samambaia ou um porco espinho. É justamente isto. Anima, alma, vontade. A capacidade de transformar o mundo, mesmo que na contra-mão da entropia. Para a vontade, os fenômenos não são todos indiferentes.
Como algo tão peculiar e caprichoso pode existir. Acidente ou incidente premeditado?Talvez jamais saberemos em verdade... Há mistérios insondáveis...

terça-feira, agosto 29, 2006

Ano eleitoral tem uma das atividades mais bizarras que eu tenho notícia, o tal do horário eleitoral gratuito.
Você tem duas opções não excludentes. A primeira é sentar e rir do naipe dos candidatos, em especial os dos partidos nanicos e radicais ortodoxos...
A segunda é sentar e chorar, já que este show de horrores irá representar a sua vontade perante este incrível circo demagógico chamado Brasil.

domingo, agosto 27, 2006

Desde que me formei, tenho sido um funcionário público. Rodei as três esferas, mudei meu tipo de trabalho, mas ainda estou no público. Uma das grandes coisas que aprendi no serviço público foi a apreciar o café. E não estou falando do ritual sagrado de abandono regular das atividades laborativas, mas da bebida em si.
Apesar de ser um grande causador de azia (a cafeína relaxa o esfincter do esôfago) adaptei-me ao seu consumo. Desde que não exagere na dose. Aprecio o café forte e sem açucar, nada de águas sujas meladas... Não é regime ou coisa parecida, o açucar tira o gosto da bebida. E de tudo mais na verdade... Ainda não descobri se tenho algum efeito "psicotrópico" importante, mas não importa, bebo pelo sabor.
O café é originário da Etiópia, foi disseminado pelos árabes e segundo consta, é o segundo maior produto de comércio internacional, perdendo apenas para o petróleo. É estimado que um terço do que se consome de água é o volume consumido de café no mundo. Já tentaram provar que o café traz malefícios á saúde mas nada foi provado. Nem de malefícios nem de benefícios...
Beber café é uma das coisas mais universais que eu tenho notícia.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Em certas ocasiões da vida nos apaixonamos por uma idéia. Não sei se pelas circunstâncias, se pela sede ou por outra necessidade qualquer. Trasformamos essa idéia no mote do dia a dia, na razão de nossa existência. Essas idéias variam de conteúdo e de materialidade, de contexto e de motivação.
O ideante então tenta, contra todas as evidências e realidades, provar a si, e por vezes aos outros, que tal idéia pode ser algo mais que mera substância etérea. Por vezes, até sucedem, mas na maioria das vezes não logram êxitos, apenas frustrações.
É como bem sabemos, o mundo das idéias é perfeito. O ideal basta a si mesmo. Mas vá plantar feijões na aridez do real...

domingo, agosto 13, 2006

Estava a discutir qualquer bobagem, quando me brindaram com o óbvio. O tempo passa. Sim, é tudo que o tempo sabe fazer. A ampulheta simboliza ( e não mede) com precisão o conceito.
E como todas as coisas óbvias, esta também nos passa desapercebida. Talvez por só conseguir ver a areia escorrer, ou mensurar a já corrida, nunca temos a dimensão real da areia ainda por vir. Mas por que se preocupar com o imprevisível e inevitável?
A areia que corre é apenas um marco, um lembrete, não a coisa em si. A vida não é a areia que se foi, ou a que está por cair, mas no fluxo. Do realizado ao devir, mas fora de ambos. É aquele minúsculo e indefinível gargalo onde as areias do tempo passam de promessas a lembranças.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Minha roseirinha tem me relembrado de minhas valorosas lições da botânica ( jardinagem na verdade...) aplicadas a vida. Tendo tido outrs roseirinhas, acxreditei que seria fácil tê-la sempre verdejante e florida. No "manual" de intruções dizia: "Muito sol e muita água, não deixe ajuntar água no pratinho". Simples. Descobri o lugar mais ensolarado da casa e regava duas vezes por dia. Toda vez que negligênciava minhas obrigações, ela murchava, mas retornava ao que era antes se corrigido o erro. Entretanto, com o tempo as folhas foram ficando secas e queimadas, as flores esturricaram e eu estupefato não compreendia nada. Até que reparei o vaso esquentava demais, o vento ajudava a secar a água do vaso.
Após uma poda providencial, galhos e flores secas, que só atrasam o crescimento do resto saudável, realoquei-a em um lugar mais protegido e menos ensolarado. Os botões ainda não apareceram, mas as folhas em brotamento já recuperaram o viço. Agora é tempo e torcer contra qualquer eventualidade.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Ao olhar para trás nos últimos 4 anos não consigo admitir qualquer sentido. As coisas foram acontecendo, meio que a minha revelia... As coisas que desejei (ainda que pelos motivos equivocados...) não tive. As coisas que planejei, não aconteceram. As coisas que desisti, conquistei. E o amanhã? Não sei. Tudo é incerto, duvidoso, nebuloso... Arrependimentos? Vários... Tempo é muito precioso para se desperdiçar.

Abrace o caos e deixe-se conduzir por seus caminhos tortuosos. A liberdade é só mais uma ilusão.

terça-feira, julho 25, 2006

Nunca fui um excelente enxadrista. Nunca tive muita disciplina para quase nada mesmo... Mas do xadrez, compreendi muitas coisas que tento aplicar na minha vida.
O importante é o rei, todas as demais peças são apenas ferramentas para mantê-lo vivo, mesmo que a custa de sacrifícios. Tanto apegar-se às peças , assim como sacrificá-las a troco de nada são caminhos certos à derrota.
Há mais coisas ao jogo que apenas o ganho material, a maioria numérica. O controle do centro, permite que você tenha uma maior influência sobre o tabuleiro, melhorando a eficência das suas peças. E há a coisa mais imaterial e importante de todas: A iniciativa. É ela quem determina quem dá as cartas e estabelece o ritmo do jogo. É ela quem determina quem é o caçador ou a presa.

sábado, julho 22, 2006

Eu estou ficando cada vez mais tolerante com a vaidade alheia. Acho que a exposição excessiva está me fazendo menos irritado com ela. Deve ser uma espécie de instinto de sobrevivência, ou arrefecimento do reflexo pelo excesso...
Em compensação estou cada dia mais furioso com a preguiça alheia. Acho que deve ser minha "sindrome da eficiência" se manifestando...

quinta-feira, julho 20, 2006

Eu não tenho o hábito de ir ao cemitério do Bonfim. Não que as pessoas tenham algum hábito do gênero, é mais questão de "ordem social". Sendo o Bonfim um cemitério de famílias tradicionais e mais endinheiradas, tenho poucas oportunidades de lá dar as caras. Não que os ricos não morram, eu só não os conheço o suficiente para lhes velar os corpos. Meus mortos geralmente vão para a Colina, mais humilde e condizente com minha vida.
É como cantam: "Quem não tem balangandãs, não vai pro Bonfim".

sábado, julho 15, 2006

É claro que esperar que as coisas aconteçam sozinhas é uma estratégia viável! Mesmo que estejamos parados, o universo continua a se manifestar.
Façamos a seguinte experiência: Não toque em nada por duas semanas. Se ainda estiver vivo (ou interessado) verá que as coisas continuam acontecendo!
Livros juntam poeira, pão cria bolor, frutas apodrecem, plantas secam e contas vencem.
Outro dia alguém me disse que eu sofria de "sindrome de eficiência". Embora desconheça tal entidade clínica e não saiba exatamente o que ela quer dizer, devo admitir que devo ser afligido por tal moléstia.
Não suporto ficar discutindo o sexo dos anjos enquanto a vida clama por soluções, destesto refazer o que já fiz a contento uma vez, me apavoro diante do trânsito lento.
Nada contra caminhadas idílicas e momentos de relaxamento quando oportunos, mas gastar 2 centavos em algo que merece 1, é desperdício. E como o tempo é limitado e inclemente, tudo tem uma certa urgência.

sexta-feira, julho 07, 2006

Acordo pela manhã. Meu travesseiro e minha cama está cheia de cabelos. A maioria é minha... Apóas uma breve inspeção de meus aposentos, noto uma quantidade considerável de pêlos pelos cantos. Rumo então automaticamente ao banheiro, próximo santuário do ritual diário. Pêlos pelo chão, nas paredes e no box do chuveiro, no sabonete, na pia.
Incrível como quando a mão mágica e silenciosa da ordem se ausenta, as coisas seguem seu curso natural. Alías, natural é a palavra mais adequada. Eu, mamífero e primata, simeóide semi-inteligente, não tenho como fugir de mim mesmo.
Acho que terei de ser mais condescendente com os meus irmãozinhos, os pequenos mamíferos domésticos.

domingo, julho 02, 2006

Sábado a tarde... Todos prometiam públicos recordes, muita animação e bebedeira. Entretanto adentro a praça da Bandeira, quase deserta, prossigo pela Bandeirantes, também as moscas, desco a Montes Claros rumo ao que era há alguns dias atrás o point da galera nos jogos da copa. Igualmente desolada, com alguns gatos pingados escorrendos pelos cantos... Não consigo disfarçar um discreto sorriso de satisfação...
Mas alto lá! Não me chamem de infiel, contra-patriota, de entreguista! Deixe me esclarecer meu ponto de vista: eu acredito na vitória do mérito. Jogamos mal, perdemos, agora de volta pra casa.
Segundo, ficar aqui discutindo sobre futebol está encobrindo assuntos muito mais relevantes para o futuro deste pobre país... Mas nisto eu já estou ficando repetitivo e poupo-lhes.
Terceiro, a copa estava tornando minha vida impraticável. Todo meu tempo disponível para assuntos administrativos era ocupado por partidas da selecinha, e portanto indisponíveis de fato.
E quarto, a histéria acabou. Diz a sabedoria popular que histeria é falta de falo. Estranhamente, a seleção recebeu a sua cota, e toda histeria sobre copa do mundo acabou-se por completo... Remédio milagroso!

sexta-feira, junho 30, 2006

Das minhas longas e esporádicas batalhas com varais de roupa, aprendi que o primeiro varal é relutante. Se esforça de todas as maneiras em me frustrar os intentos. Buchas e parafusos que não seguram, cordas que se recusam a compartilhar comprimentos, nós que se desfazem como que por magia...
O segundo varal entretanto, vendo toda aquela vã faina, compreende que todo esforço é inútil, e se entrega docemente a seu destino.

terça-feira, junho 27, 2006

Tem dias que me pego pensando no passado. As coisas que acreditei, as pessoas que acreditei, as coias que tive de viver e sobreviver... Tanta coisa mudou, tanta coisa desmoronou... E outras surgiram no lugar, meio tímidas e temerosas, mas resolutas.
Mas o vazio permanece, a sede permanece, sempre me lembrando que o mundo pode mudar de aparência, mas as verdadeiras questões continuam.

segunda-feira, junho 26, 2006

Limbo. Segundo a tradição cristã, é o lugar onde as almas que não pecaram, mas não foram batizadas vão parar. São basicamente dois possibilidades... Crianças que morrem muito precocemente ou pessoas que nasceram antes de Cristo, e portanto não puderam "aceitá-lo".
O raciocínio é simples. Não merecem o inferno, mas não cumprem o protocolo para vislumbrar o paraíso. Então ficam ali na meiuca, meio perdidos naquela terra de ninguém, nas frestas das leis celestiais...

terça-feira, junho 20, 2006

Então resolveram ressucitar a Unilar, a feira de "utilidades" domésticas. Andava sumida uns anos, parece que caiu na mesmice. Me juntei a meu irmão, outro entusiasta dos avanços da modernidade em sua casa, e fomos conferir a nova edição.
Já na porta uma especie de exposição de paisagismo... Esses jardins modernos de pedra, vai entender... Ao entrar no pavilhão, móveis! Coisas do bom e do mal gosto, mas de preço sempre "fino". Mais alguns estandes adiante, uma espécie de bazar de roupas e acessórios. Lojas de acabamento, azulejos... Até que enfim a velha Unilar se manifestou em seu completo esplendor: Estandes vendendo raladores de vegetais milagrosos, santos Grills, rodos mágicos, rodinhos magnéticos e toda sorte de produtos que me lembram saudosamente o início dos canais de compra... Mas não há nada inovador, as quinquilharias continuam as mesmas. Compro dois rodinhos magnéticos, um para uso pessoal, outro para realização de uma dona de casa convicta, e rumo em direção a saída. Posso passar mais dez anos sem Unilar.

domingo, junho 18, 2006

Eu até acho tolerável que tudo que se veja na televisão, nas ruas e outros ajuntamentos sociais em época de copa do mundo se refira ao futebol. Afinal, lidando com paixão como esta, histeria como esta, nada mais natural que ao tentar convencer alguém de comprar algo que ela não realmente precisa , remeter aos seus apetites mais vorazes, parece uma estratégia bem viável. É jogo baixo, mas o comércio nunca foi o reino da ética mesmo...
O que eu acho insuportável de fato é como qualquer assunto, por mais sério que seja, fique aí cheio de comentários e expressões do futebol.

sexta-feira, junho 09, 2006

Homo habilis

O homo habilis foi um ancestral humano já extinto conhecido por ter sido o primeiro a usar ferramentas de pedra lascada, de onde deriva seu nome.
A espécie humana, apesar da relativa fragilidade, conseguiu dominar todo o globo graças ao seu suposto intelecto superior e o tal do polegar opositor. Simplesmente porque conseguiu criar ferramentas que supriam suas muitas deficiências.
Mas no fundo no fundo ainda somos muito homo habilis. Talvez as fêmeas da espécie não compreendam, mas as ferramentas ainda tem um fascínio real sobre os machos. O verdadeiro macho homo habilis não só tem de ter as suas próprias ferramentas, mas ele tem de escolhê-las a dedo. Afinal é através delas que ele curvará o mundo sob sua vontade. Embora precise de poucas ferramentas para o uso corriqueiro, ele sempre vai ter um brilho no olhar enquanto admira uma furadeira nova. O homo habilis também despreza outros "machos" que não tem suas próprias ferramentas e não consegue manter sua "toca" em ordem, podendo inclusive considera-los efeminados. Mas não recusa ajudar e sente-se satisfeito em trazer as coisas ao normal, mesmo que isto lhe custe muitas horas de trabalho. Sendo obstinado, jamais largará um projeto enquanto não lhe estiver a contento.
O homo habilis prefere o trabalho solitário, mas se a tarefa é grande verdadeiros bandos barulhentos podem ser vistos abordando o problema.
Embora se sinta apto a realizar qualquer tarefa, muitas vezes é obrigado a reconhecer suas fraquezas e pedir ajuda. Invariavelmente tarde demais.

sábado, junho 03, 2006

Negatoando pela cidade não posso deixar de reparar na quantidade de bares e congêneres tocando samba. Mas é samba mesmo! Não essa porcariada prestigiada pela "grande" mídia. Cheguei a ficar a vontade em uma grande festa aqui dessas plagas, nem precisei fingir, era música do meu agrado! Coisas que eu tenho ou queria ter em casa.
O fato é que, com grande constrangimento, devo admitir que estou na moda...

segunda-feira, maio 29, 2006

E então cá estamos novamente ás vésperas de mais uma copa do mundo de futebol... O país em pleno mar de lama, com todas as suas instuições em cheque, impunidade em rompante, eleições à vista e nós aqui preocupados em ser hexacampeões do mundo.
Não basta o carnaval anual, temos de ter o super carnaval de 4 em 4 anos... Que curiosamente coincide com as principais eleições desta federação...
E uma pesquisa aí diz que o brasileiro é um dos cidadãos mais felizes do mundo... Muito circo, pouco pão... Parece que basta...

quinta-feira, maio 25, 2006

Certa manhã dessas, sem nenhuma particular significância, fora o frio desanimador, me decidi a voltar a correr. Mas por que meu Deus? O que levaria alguém a escolher uma gélida manhã belo horizontina como ponto de partida para algo que nem julga lá muito agradável? A resposta é muito simples. Se como num parto, alguém consegue largar o calor e conforto de seu leito para enfrentar uma manhã glacial, sem nenhum tipo de ganho secundário, o que é que essa pessoa não pode fazer?
A vida é a vitória da vontade sobre as circunstâncias. E nada como renascer diariamente, disposto a mudar as coisas.

terça-feira, maio 16, 2006

Em São Paulo um grupo de criminosos desafia o sistema vigente, em uma marcante demonstração de poder, atacando autoridades e bens públicos, deixando a população aterrorizada.
Em Brasília, é descoberto um esquema de superfaturamento de ambulâncias que pode envolver apenas um terço de toda a câmara.
E você cidadão de bem? Onde entra nessa história? Refém de um país onde manda a malandragem... Um estado de direito, mas não de fato...
Não consigo deixar de me sentir um pateta quando voto.

quarta-feira, maio 03, 2006

Alguém inventou uma lenda aí que versa sobre o compleição de um ciclo de vida. Um ciclo que se completa em plenitude! Não essas porcariadas que vemos por aí molhando fraldas, botando defeito nas coisas e desistimulando a turma a chegar lá. Mas enfim, a tal plenitude seria atingida com o plantar de uma árvore, a concepção de uma criança e a feitura de um livro.
Felizes tempos estes os nossos! As árvores são facílimas de serem plantadas! Qualquer um já fez isto, mesmo que de má vontade e inconcientemente. Até os passarinhos plantam árvores. Filhos então? Fichinha! Tá todo mundo tendo. Ou pelo menos tentando... Deus dá, Deus cria. Mas livro então tá cada dia mais fácil. Imagine só, para fazer um livro hoje o sujeito não nem precisa ser formalmente alfabetizado!
Só nao se realiza quem não quer.

sexta-feira, abril 28, 2006

Segundo consta nos livros um homem foi preso, condenado por juri popular, açoitado, vestido com uma coroa de espinhos, obrigado a carregar morro acima uma tora de madeira com a qual seria mais tarde devidamente crucificado entre dois ladrões. Alegaram que ele se intitulava rei... Ainda assim, ao ver se aproximar a hora final, voltou seus olhos ao céu e clamou: "Oh Pai, perdoai-os! Eles não sabem o que fazem"!
Espero que a desculpa tenho sido aceita, afinal não progredimos muito nesses dois milênios...

quarta-feira, abril 26, 2006

Hienas, ao contrário do que se imagina não são canídeos. Elas têm uma família própria, a Hyaenidae e estão muito mais próximas aos felinos que aos caninos. Famosas pelo seu hábito de comer carniça, são entretanto exímias caçadoras. Geralmente caçam sozinhas e tem preferência a presas fracas e doentes, embora sejam capazes de matar presas grandes e saudáveis. Caçam em bando quase acidentalmente, com os seus grunhidos atraindo outras hienas. Tem muita inteligência, equiparando-se a alguns primatas, adaptando seu estilo de caça as necessidades. Tem uma mandíbula poderosa e um estômago com acidez incomum, garantindo assim um aproveitamento muito melhor da presa, chegando inclusive a digerir ossos e dentes em menos de 24 horas. Apesar de hábeis caçadoras, elas obviamente preferem se alimentar de carcaças ou tomar as presas mortas de outros animais. Principalmente se estiverem em grandes números. Basta ser oportuno. Hienas comem carcaças de outros animais mortos, incluindo outras hienas.
Hienas vivem em clãs e seus membros são muito mais competitivos e menos cooperativos que os de seus colegas mamíferos, mas dentro clã a vida é bem pacífica. Entretanto há sangrentas batalhas entre clãs distintos pelo controle do território. Os clãs tem uma fêmea dominante, os machos geralmente são errantes.
As hienas não têm parceiros fixos, e geralmente pertencem a clãs diferentes. Devido a grande agressividade da fêmea, o processo de corte é sempre algo arriscado para o macho. Cada ninhada tem de 1 a 4 filhotes, que já nascem com dentes e de olhos abertos. Brigas entre os filhotes são comuns e boa parte deles morre por este motivo. Os filhotes do clã ficam juntos, mas não recebem nenhum tipo de atenção pelos adultos. O leite da hiena é particularmente nutritivo, permitindo assim que a mãe possa abandonar os filhotes para caçar por até uma semana.
Leões costumam tomar as presas de hienas com mais freqüência que o contrário. Parece haver uma animosidade entre as espécies... Leões matam hienas sem nenhuma provocação. Hienas perseguem leoas mesmo depois dela ter abandonado a caça. Cães selvagens também têm suas diferenças com as hienas e atacam se oportuno.

terça-feira, abril 25, 2006

A vida tem suas particularidades. E como ela gosta de paradoxos e contrastes... Eu por exemplo, nunca me senti tão livre em minha vida. É uma sensação exultante, quase de embriagar. Por outro lado nunca me senti tão sozinho... Mas resignado admito: "A colheita é comum, o capinar é sozinho".

sexta-feira, abril 21, 2006

Não há nenhuma virtude em procurar o prazer ou evitar a dor. O contrário, no entanto, soa completamente insensato. A virtude está no caminho do meio, na sabedoria de quais prazeres devem ser gozados e de quais sofrimentos devem ser suportados. Mesmo por que uma vida de prazeres se torna insossa, e uma vida de atribulações se torna insuportável.

terça-feira, abril 18, 2006

Catarse, vem do grego, kátharsis para purificação, purgação, limpeza.
Usado em medicina para se referir à evacuação. Acreditava-se em efeitos benéficos de provoca-la. E portanto criou 3 categorias de remédios: os laxantes, os catárticos e os drásticos, cada qual com efeito mais poderoso.
Na psicanalise, catarse é o nome da técnica que visa reviver lembranças traumáticas e inconcientes, desencadeando fortes emoções e "descarregando" a mente do indivíduo, propiciando a cura.
No teatro, catarse é a purificação da alma alcançada pela descarga emocional provocada pelo drama. Para tal o herói deveria se tornar infeliz pelos seus próprios atos, e não pelo acaso. (Catarse para o público, não para o héroi).

quarta-feira, abril 12, 2006

São as qualidades que tornam as pessoas utéis. Mas são os defeitos que as tornam interessantes.

sábado, abril 08, 2006

Palhaço: Na teoria geral do circo, um artista que com seus trajes e maquiagem se dedica à entreter o público com seu tipo de humor característico. Adeptos do humor pastelão, já nào encantam como antigamente. Alías, o circo já não encanta como antigamente. Embora não pareça, existe uma complexa (e batida) teoria de funcionamento do chamado palhaço, que inclui contrastes e papéis específicos, além de um conflito básico. Não entrarei em detalhes, mesmo porque, não sei dos detalhes. Sugiro para tal assistir à alguns episódios de "Os Trapalhões". Os antigos, por favor...
Mas o fato em questão é outro. Devido as peculiaridades de seu traje e maquiagem, o palhaço padrão é extremamente inflamável, mas não explosivo. Nas circunstâncias em que o circo pega fogo, este pobre integrante está sob enorme risco de se inflamar. E um palhaço em combustão é sempre um espetáculo, ainda mais em um contexto de circo em chamas. Verdade indubitável: Quando o circo pega fogo, o palhaço morre queimado. Para o deleite do respeitável público.

quinta-feira, abril 06, 2006

Esse negócio de direita e esquerda pra mim não existe. Originalmente criado pelo hábito de girondinos e jacobinos de sentar nas respectivas áreas, a coisa, de referência parlamentar, virou referência política. O fato é que se você sentar um girondino na parte esquerda do parlamento, ele não se torna um jacobino. Ou assim deveria ser... E há claro os famosos sans-cullotes...
Visto o caos ideológico do "gigante deitado eternamente", onde posição é definida por auto-proclamação e não por comportamento, proponho mudar a orientação política para outra dimensão do plano cartesiano.
Deveriamos agora ter os "por cima" e os "por baixo". E o muro é óbvio.

domingo, abril 02, 2006

O cara que teve a idéia de colocar nossos animais em extinção no verso de nossas notas é um gênio. Pelo menos no plano das idéias. Veja bem: ele imortalizou as pobres criaturas no mesmo agente que as leva a aniquilação. Genial! Assim enquanto houver dinheiro, haverá araras-azuis.
Resta saber se os botos preferem viver em pacífico ostracismo ou serem eternamente relembrados, do além túmulo, em um pedaço de papel.

quarta-feira, março 29, 2006

Certa feita, discutia com um professor sobre as "self-fullfilling prophecies". é mais ou menos o seguinte:
Você acorda no meio da noite e repara em um pequeno e inicial incêndio dentro de sua casa. Após longa reflexão você conclui com grande perspicáciae profetisa: "Em algumas horas, toda minha casa estará em cinzas e se eu sobreviver, estarei na merda". Aí você vira de lado e dorme ou passa noite se lamentando enquanto as chamas devoram tudo.

segunda-feira, março 27, 2006

Eu acho muito curioso crianças fazendo birra. Esperneiam, fazem ameaças, dizem as coisas mais estranhas, alguns chegam a se mutilar, prender a respiração para morrer... Um espetáculo para o observador casual. A primeira constatação sobre este peculiar ritual é que ele demanda uma grande quantidade de energia. Portanto ele só deve valer a pena se for vitória garantida... Pais que não cedem a birra tendem a ter crianças menos birrentas. Afinal, se você gasta joules e maios joules em seu espetáculo apoteótico e apocalipitico, apenas para se achar rolando pateticamente no chão ao olhar indiferente ou galhofeiro de outrem, você vai pensar duas vezes antes de tentar isto de novo.
Faça um favor a uma criança, não ceda a birra. É nesta hora que elas tem de aprender que ficar fazendo beicinho não resolve nada e que elas precisam arrajar meios mais eficientes de conseguirem o que querem. A humanidade agradece.

segunda-feira, março 13, 2006

Não viaje com crianças de colo. Elas não aproveitam a viagem, você não aproveita a viagem, os circunstantes inocentes não aproveitam a viagem. Tente passar 10 horas trancado em um "avião creche", onde você é chutado regularmente, tem seu cabelo puxado regularmente e apesar de se comportar como um verdadeiro gentleman, e é obrigado a sorrir enquanto aquelas gracinhas tentam por o pulmão para fora pela boca. Eu sei que elas não tem culpa, pois não tem compreensão das coisas. Mas os pais deveriam ter. Só me faz temer pelas gerações futuras. Dizem que o Qi esta crescendo com as gerações. Pena que não tenhamos capacidade para educa-las. Definitivamente, não somos bons exemplos.
Estou quase propondo as companhias aéreas que crianças pequenas deveriam viajar em caixas.
No kids, pets allowed. Quanto tempo eu não ouvia isto...

sábado, março 04, 2006

O mundo está cheio de coisas estranhas, sem explicações adequadas. poderes sobrenaturais por exemplo. Aposto que tem muita gente com capacidades incomuns, inexploradas ou até por descobrir. Eu por exemplo descobri que posso fazer chover. Não chega a ser igual ao Paulo Coelho, ou algo visualmente impressionante. É apenas um ritual, cujos detalhes não revelarei, mas adianto que não envolve sapos, fogueiras ou danças ridículas.
Mas devo confessar duas coisas. A primeira é que evito exercer meu poder. Seja pelo medo de ser punido pela minha interferência nos caminhos naturais ou então de me revelar mais uma fraude... E a segunda é que já me manifestei em benefício próprio e de maneira mesquinha e infantil. Mas confesso também que me diverti...
Nunca vi uma passagem de comando tão encharcada na minha vida.

sábado, fevereiro 18, 2006

Nada mais inútil que brigar por uma opinião. Afinal, delas o mundo está cheia, todos tem mais que um punhado delas e ninguém evita de distribuí-las a quem quer que seja, solicitadas ou não. Então como é que alguma coisa tão abundante pode ter valor? Vá a qualquer lugar, pergunte a qualquer um sobre qualquer coisa. Todo mundo tem uma opinião. Ou mais de uma...
Opinar não dói. Opinar não custa dinheiro. Mas opinar costuma nos expor, mostrar os verdadeiros idiotas que somos. Mas os outros idiotas não costumam reparar, afinal eles querem dar opiniões, não receber.
Ainda assim algumas pessoas valorizam as próprias opiniões acima da média. Ora, convenhamos, se elas valem tanto assim, não é muito mais prudente deixá-las guardadas em lugar seguro, junto à seu dono? Pérolas aos porcos...
Estou me referindo, obviamente, as opiniões corriqueiras. Para decisões importantes, é preciso de opiniões importantes. Há inclusive muita gente recebendo para dar opinião. E nada é tão bem remunerado. Essas sim tem grande valia, o difícil é suportar a vaidade do emissor da verdade suprema. Os verdadeiros oráculos, ou as vezes o próprio Apolo ou Atena.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Os homens não são iguais. Veja os mártires, homens cuja causa é maior que a vida, cuja luta dá significado a própria existência. E veja os soldados, homens comuns, também empenhados em uma causa, mais pelos seus efeitos do que por seus ideais. Enquanto o mátir luta por idéias, o soldado se preocupa com o futuro, com sua família. Primeiro está a sobrevivência. O soldado tem de sobreviver para continuar lutando, na esperança de um dia enfim poder parar de lutar.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Muitas vezes nossos esforços não são recompensados (ou nem perto disto...) não por que não haja merecimento ou por que o esforço não é suficiente. As vezes só estamos empurrando a porta pelo lado errado.
Há muitas maneiras de se tentar conseguir uma coisa. Nem todas serão adequadas, nem todas serão fáceis.
Mas se eu tivesse de falar com alguém, eu usaria o email.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

A verdade matemática é infalível, como todas as ciências ideais. Dois e dois são sempre quatro. O problema é que o mundo real é bem diferente do mundo das idéias (também conhecido como mundo ideal). Não que dois e dois não sejam quatro. O problema é que as coisas parecem com dois, lembram dois e portanto devem ser mais ou menos quatro. O problema não é a lógica, é a medida.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Ser do contra é uma arte. Das mais refinadas. As pessoas não entendem que podemos defender ferrenhamente pontos de vista que jamais concordaremos. Alguns fazem para pirraçar, outros para exercitar o poder de argumentação. Eu o faço por ambos e como uma prática de "perspectiva". Ao ser do contra você tem que se colocar em outra posição, fugir dos lugares comuns, tentar entender a questão em outro ponto de vista. Se não não tem graça, vira briga de menino pequeno birrento, do tipo "Você é burro. Não, você é burro". É mais na linha do "quem discorda, acrescenta". Não essa baboseira adolescente de discordar para parecer inteligente, independente e malvado.
Neste mundo louco e estúpido é dificil arranjar bons debatedores. A maioria só repete o que mal entendeu na televisão. Sejam eles a favor ou do contra.

domingo, janeiro 29, 2006

Alguém* certa vez disse: "Eu sou eu e minhas circunstâncias". Concordo e acrescento: A vida é circunstância e opção. A cada dia acredito que é muito mais circusntância e que nossas opções em verdade se restringem muito, sendo apenas em número de meia dúzia, as outras são apenas consequências imediatas das opções reais. Axiomas e corolários...
Mas as circunstâncias estão fora de nosso controle, então são as opções que nos tornam diferentes uns dos outros e que nos torna também responsáveis pelo nosso próprio destino. Segundo a tradição Judaico-cristã Deus é bom e onipotente, mas dotou-nos do livre arbítrio. Uma explicação bem interessante em porque um ser tão poderoso e misericordioso é impassível aos acontecimentos ao seu redor. Embora ele possa mudar as circuntâncias ele não pode mudar nossas opções... Ou seja, se Ele existe ou não, não importa. O fato é que as coisas não tem o hábito de ir como planejado, para o horror dos obcessivos. Só nos resta perder o apego e mergulhar no caos.


*José Ortega y Gasset

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Ser cético é mais que duvidar das coisas. É mais que cegar-se com a luz da razão. O ceticismo radical também duvida das coisas ditas óbvias. Não é preciso muito esforço racional para não acreditar em bruxas, mágica, simpatias, telecinese, extraterrestres e companhia limitada. O grande esforço é entender que nosso conhecimento é limitado, nossas explicações precárias e o universo imensamente complexo. Embora as coisas sejam improváveis, elas não são necessariamente impossíveis. Veja a vida por exemplo: Há algo mais improvável que reações químicas possam conduzir a vida (semi)inteligente? E no entanto, ninguém refutaria esse fato como verdade.
Ser cético não é duvidar, é compreender que não compreende em verdade.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Outro dia estava cuidando da minha própria vida quando fui abalroado por um motorista destraido. Nenhum dano visível ao meu veículo, dei o assunto por encerrado e fui para o aconchego de meu lar. Tudo aconteceu ali na Bandeirantes, sítio famoso pela pista de caminhada e pelas moças que por ela transitam. Imagino que meu desafortunado companheiro motorista deve ter detido muito atenção a alguma delas, e surpreso não viu como se aproximava do meu carro.
E não somos todos assim? Muito mais interessados (e com razão as vezes...) nos nossos arredores do que nos rumos que tomam nossas vidas?
Equilibrio, sempre o pulo do gato...

quinta-feira, janeiro 19, 2006

- Vai lá e olha 2 pacientes para mim.
- Por que eu faria uma coisa dessas?
- Vai lá. É sua chance de ajudar alguém. Você vai se sentir bem.
- Na verdade eu sou mesquinho. Ajudar os outros me faz sentir mal.
- Vai lá sô. Faça uma boa ação, Deus vai te recompensar.
- Achei que você era ateu.
- E sou.
- Típico... O ateu de verdade sempre muda de opinião quando se torna necessário...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Os chineses tem uma sabedoria especial sobre o sofrimento. Não do próprio, mas do alheio. Suas técnicas primam muito mais pela constância que pela intensidade. Pelo menos algumas das mais famosas... Nós ocidentais gostamos de infligir montanhas de sofrimento, arrancar confissões rápidas, mutilar e deformar. Não que os chineses não gostem dessas coisas, mas eles tem mais paciência. Eles só preferem algumas coisas mais sutis. Ou não, vai saber o que é real e o que é folclore... Mas pouco importa, falo de sofrimento, não de particularidades do sádismo cultural.
Imagine-se tendo de fazer uma marcha forçada de uns 20 ou 30 quilometros, sem parar. e imagine também que você tem uma pequena pedra no sapato, pequena mas estrategicamente colocada. Você não pode retirar os sapatos, vai ganhar chibatadas... No iício a coisa vai indo, é só um incômodo. Mas a cada passo o desconforto aumenta, a cada pisada a lembrança retorna, cada vez mais viva. Não é possível se resignar com uma pedra no sapato... E assim pequenas coisas as vezes se tornam maiores que o mundo.

sábado, janeiro 14, 2006

Eu acho que todos temos "fixações". Aspas necessárias já que por definição, fixação é o apego doentio a alguma coisa. Me refiro as coisas mais corriqueiras. Outro dia fiquei surpreso ao constatar que tinha umas 6 versões de Berimbau, de Baden Powel. Ou quando avidamente dizimei todos os contos do Sabino. E vou me lembrando das paixões "de verão" a que sucumbi ou fui testemunha incrédula. Io-ios, menudos, pokemon, Chico Buarque, chapinha, Feng Sui, regressão a vidas passadas, santo dai-me, pogobol, Latino, fondue, sodoku, casa dos artistas, movimento punk, vinho alemão, papel de carta, kart, cavalos, Harry Potter, Paulo Coelho, e tantas e inumeráveis outras coisas.
O que nos faz interessar tão profundamente (e as vezes por tão breve período) por esses fenômenos? Será que eles nos dizem algo mais profundo sobre nós mesmos? Ou será que são apenas um paliativo contra o tédio do cotidiano? De qualquer forma, acredito que alguns valem mais a pena que outros.