sábado, março 30, 2024

 Dos feriados nacionais, um dos que eu mais gosto é a Páscoa. Vivendo em uma tradição judaico-cristã, mesmo não tendo aderido a nenhuma das linhas, há muito a aproveitar. Não falo dos ovos ou outras paganices sorrateiramente inclusas. Eu gosto é das histórias e simbolismos.

A páscoa judaica, ou Pessach, ou ainda "passagem", rememora a saída do povo judeu da escravidão no Egito. Perceba, eles ganharam a liberdade e passam 40 anos no deserto em busca da terra prometida. E Moisés; coitado; ainda foi barrado de lá entrar por que fraquejou em sua fé. Assim é o demiurgo do velho testamento...

A páscoa cristã segue a mesma linha: Jesus, o cristo, se liberta da prisão da carne fazendo sua passagem, não sem antes passar pelo seu calvário cheio de dor e humilhações. Perdoa-nos. Não sabemos o que fazemos.

Então a páscoa para mim é cheia de significados e lembranças. Fui liberto em mais de uma ocasião, só para ser jogado no deserto. Mas as coisas acham seu caminho. Não acho que estou na terra prometida, mas já caminhei muito e a vida se transforma  o tempo todo. Só espero estar ficando um pouco mais sábio. Mas tenho sérias dúvidas sobre isto.

domingo, fevereiro 25, 2024

 O que acontece quando " a ultima luz se apaga"? A resposta óbvia é que o corpo se desfaz e retorna ao pó. Salvo se for mumificado, saponificado ou congelado.  Então o corpo vira um tesouro para a ciência ou a religião.

Mas o corpo é de mais interesse dos vermes, abutres e chacais. Afinal, o que aconteceu com o homem preso aquela carcaça?

A primeira divergência, vem da dúvida da existência da alma, ou algo que transcende a existência material. Para alguns, acabou-se o corpo e seus ilusões eletroquímicas, acabou-se a existência. Para outros há algo imaterial que dá continuidade á existência.

Dos "imaterialistas" há dois tipos básicos: Existências carnais únicas ou múltiplas.  Mas no final das contas com o mesmo objetivo, cumprir certos pré-requisitos, para ser considerado justo e merecer o retorno a algum "paraíso perdido".  Os critérios variam... fé, boas ações, feitos heroicos, desprendimento material, compreensão da realidade...

No geral há alguma forma de julgamento seja no  post mortem imediato ou em algum momento do Juízo Final, uma espécie de tribunal dos final dos tempos. Por vezes o tribunal é composto por criaturas místicas, por vezes o processo é mais pessoal e discreto.

O paraíso recebeu vário nomes: Valhala dos Vikings, campos Elísios dos Gregos, o Jardim do Éden judaico-cristão, o campo de Juncos (Aaru) egípcio, ou o nirvana  Budista. Nem todos se referem a lugares mas as vezes a estados de libertação do mundo físico.

Há também locais/situações de castigo, embora nem todos sejam definitivos. há nosso conhecido inferno, o purgatório,  o Sheol, Gehenna, o tártaro, Helheim, Irkalla o Umbral e o sansara. Nem todos são definitivos e as  e as punições variam. Por vezes é só um lugar para aguardar julgamento, por vezes um local de purificação e mortificação até o merecimento. Pandora e sua caixinha,  e nossa eterna esperança que podemos ser salvos...

A teologia cristão nos brinda ainda com uma instância ainda mais curiosa... o limbo. Como podem ser condenados aqueles que não tiveram oportunidade de cumprir os requisitos? Se aplica a crianças natimortas e virtuosos poetas pré-cristãos. Injusto o inferno, mas sem critérios para o paraíso. Aí temos o limbo, uma espécie de lugar nenhum. Ah a teologia.... criando soluções engenhosas para problemas que não existem...

O que eu acredito? Como cético pirronista, em nada e em tudo. Mas tenho esperança que os materialistas ou os hindus estejam certos.  Que a existência se desfaça em nada ou se dissolva no supremo absoluto, dando um basta nessa babojada material.


segunda-feira, fevereiro 12, 2024

Em uma antiguidade nem tão remota, em um tempo que não havíamos poluído tanto nosso mundo e nossa mente, éramos mais capazes de enxergar além de nós mesmos. Sabemos muito mais sobre o mundo físico é evidente, me pareça que permanecemos tão ou mais absortos do que então nestas questões mais sutis e possivelmente mais cruciais.
Nunca fomos muito afeitos a escuridão e ao silêncio. Medo do que não pode ver ou ouvir? Ou de estar só consigo mesmo? Mas o fato é que a noite não é tão escura nem tão silenciosa. Você pode até aprender uma lição ou outra se você não permitir que seus demônios tomem conta. Há coisas esquecidas e desvalorizadas, como o vento, as folhas, a agua corrente ou caindo, animais e quem sabe o seu próprio coração batendo. Estranhos nos nossos próprios corpos...
Destas coisas,  considero o céu noturno das mais negligenciadas.  Nossos céus e nossos egos andam muito iluminados. Olhar para o céu é perda de tempo, melhor olhar para nosso umbigos. Mas o céu está e sempre esteve lá. Gigantesco, impávido e regularmente mutável, mas sempre com algumas surpresas para os olhos atentos. O céu nos mostrou caminhos, ensinou sobre ciclos e ritmos, inspirou histórias e nós mostrou nosso lugar insignificante no mundo.
Ainda sobre o céu e seu escuridão, termos a estrela D'alva, ou estrela da manhã.  É o planeta Vênus, terceiro objeto mais brilhante do céu, que ao "nascer" no ocidente prenuncia, de maneira clara, o alvorecer. Não importa quão escura foi a noite, um novo dia está a caminho. 


domingo, janeiro 28, 2024

Rubicão

 A nordeste de Roma, havia o Rio Rubicão. Havia, não por que deixou de existir, mas por que a história é cheia de omissões e diz que me diz. Hoje talvez seja o Fiumicino. Divagações.... O fato é que a presença de minério de ferro deve ter originado seu nome e que era o limite da província romana.

A lei Romana da época, proibia qualquer general romano de atravessar o Rubicão com suas tropas, sendo este ato considerado uma ameaça a Roma. 

Em 49 AC, Julio César atravessou o Rubicão, levando a uma guerra civil e posteriormente a sua condução a imperador. "Alea jacta est", disse ele.

Hoje atravessar o Rubicão é tomar uma decisão sem volta e que muda o destino dos envolvidos.  Os americanos se referem a isto como "point of no return". 

sábado, janeiro 27, 2024

Daemon

  Sir Ernest Shackleton, na sua fase final de sua atribulada expedição a Antártida, descreve uma presença incorpórea, que oferecia ajuda e encorajamento. Muitos outros, em situações similares- exploradores e náufragos- relatam experiências similares.

Desde a antiguidade muitos relatos e explicações para tal situação. Espíritos, guia, anjos da guarda, daemons. O conceito é simples e ubíquo. Uma entidade incopórea, mística ou não, (anjo, espirito dos antepassados ou heróis de outrora, animais, fadas ou grilos falantes por exemplo) que se comprometem a guiar ou auxiliar  alguém durante sua jornada de maneira temporária ou permanente. Há também aqueles que compartilham o caminho, mas cuja ajuda é sempre duvidosa...

A ciência e seu saudável ceticismo tenta explicar. Alguém postulou a hipote4se de uma "consciência bicameral", como se a mente tivesse várias instâncias e elas se comunicassem sem a consciência uma da outra. Algo não muito diferente da esquizofrenia. Poderia o stress extremo nos fazer dissociar? Há obviamente divergências e controvérsias. 

O fato é que temos vozes na nossa cabeça. Seja uma experiência mística, uma adaptação ao ominoso ou sinal de loucura. A explicação vai sempre de acordo com a preferência do cliente, A vida continua um mistério.