sábado, dezembro 31, 2005

Diz uma lenda aí que se você estiver em um ponto hipotético sobre o polo norte a observar a terra, ela estará se deslocando no sentido anti-horário. Muito antes pelo contrário, se este ponto hipotético estiver sobre o polo sul, observar-se-á a rotação da mesma no sentido horário.
Entretanto, se você estiver sobre qualquer ponto real sobre sua superfície, vai constatar atônito que a terra se desloca exatamente no sentido contrário ao que o observador se desloca! Algo de muito útil portanto, já que podemos girar a nosso bel prazer das nossas pequenas possibilidades. Excetuando é claro se você se encontra dentro de um porta-mala, com dois marmanjos armados se divertindo com seu cartao de crédito no banco da frente. Neste caso, todas as observações acima são quase irrelevantes.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

De uma coisa me convenço a cada dia. A civilização chegou onde chegou graças ao gênio de uns poucos e ao medo de muitos.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Descendo de linhagem nobre. Meu pai foi um grande campeão. Temido e invejado por todos. Um verdadeiro padrão da raça. Minha mãe uma entre tantas. Irmãos, um verdadeiro rebanho. Na tenra idade, me foram arrancados os sonhos, a chance de ser grande como meu pai. Que nem sequer sabe de mim. Ou de si. É quase uma máquina. Ainda jovem, sacrificado aos deuses sedentos de sangue num ritual macabro de extermínio em massa, cheio de mutilações e rituais bizarros.
Após uma breve existência, meu destino é me acumular nas artérias de alguém, e a ele garantir o meu infortúnio, nessas ironias que só o destino saber fazer. Uma vida precocemente encerrada, cheia de possibilidades não realizadas.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Diz uma lenda folclórica da zoologia que o avestruz quando se sente amaeçado, enfia a cabeça em um buraco para se esconder do mundo. Pensamento mágico? Ou é um comportamento comparável ao de uma criança pequena que de fato acredita que o que está fora das vistas está fora da existência?
Seja como for, toda vez que o avestruz esconde a cabeça, deixa a mostra sua enorme e indefesa bunda.
E é capaz ainda de ser posar de vítima...

terça-feira, dezembro 20, 2005

Eu acredito muito mais nas coisas assimiladas pela experiência do que nas adquiridas de outras formas. Por exemplo, acredito muito mais na sinceridade de um crente convertido depois de velho do que um que nasceu no seio da igreja. Acredito muito mais em comunista que tem vida confortável do que aqueles que passam dificuldades.
Muita gente é o que é apenas por conveniência ou hábito.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

A poesia, quem diria, está morta. E já faz algum tempo. E não foi só por aqui. Já vinha mal das pernas, coitada. Foi perdendo prestígio, foi perdendo espaço, quando assustou já não saia mais de casa. As pessoas não deram a mínima, ninguém deu falta. Afinal ninguém lê, afinal ninguém escreve. Morreu sozinha e abandonada, talvez nem tenha sido enterrada... Das glórias ainda resta algum conhecimento, mas desses malucos aí que não tem o que fazer. De tão obscura que está ficando, não demora a qualquer dia, voltar a moda.

domingo, dezembro 04, 2005

Hohoho... Me parece que o natal está se aproximando. As coisas assim me dizem, já que me encontro, de bom grado, à margem dos meios habituais. As ruas estão apinhadas de gente correndo, as pessoas estão com pressa e de mau- humor. A tolerância está quase esgotada onde quer que eu vá. Multidões se espremem para tentar satisfazer com as compras aquilo tudo que faltou no ano. Afinal, natal é sagrado.Ruas lotadas, os trombadinhas se fartam. Filas, tumultos, luzinhas e barbas postiças. Só sei que acabou quando acordo de manhã, a cidade encontra-se deserta e silenciosa. Cumprido o ritual, a turba ruma ao litoral, me deixando aliviado a guardar a cidade semiadormecida.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Tédio é uma coisa perigosa... Aproveitando-me do meu ócio, realize, ainda que precariamente, um projeto antigo. Um quiz sobre minha pessoa. Quero ver quem me conhece de verdade. Taí o link: http://tmventura.friendtest.com
Este teste tem mais o objetivo de entreter do que de avaliar quem me conhece. E não há duas respostas corretas! Há várias coisas que podem parecer confusas, mas só há uma resposta. Nem tudo o que digo eu de fato acredito. Não me levem a sério em boa parte das coisas que eu digo.
Mas de fato, pelas respostas até agora, meu eu "mitológico" faz muito mais sucesso que o eu real.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Retornando da labuta, cansado mas satisfeito, me encaminho ao meu covil. Retiro meu relógio, acessório obrigatório da servidão, descalço-me e me dirijo ao meu fiel escudeiro. Meu computador muito pessoal.
Mas hoje não é um dia comum. Ao cumprir o ritual de virar botões nada do familiar processo de despertar. Ao invés disto estalos, faíscas e fumaça. O cheiro de plástico escorchado enche meu calabouço. E estupefato constato o óbvio: Meu computador queimou.
É um mundo estranho este em que nos apegamos tanto as coisas... A sensação que tenho é que um amigo íntimo que estava bem, foi vítima de uma catástrofe repentina. É como se ele tivesse tido um infarto fulminante, me deixando estupefato e sem compreender. E chocado ainda tento entender : "Mas ele era tão jovem"!

quarta-feira, novembro 02, 2005

Um belo dia, em uma família de nossa intimidade, mãe e filha discutiam sobre qualquer coisa não lá muito importante. A filha, naquelas tempestades da muita juventude, queria por que queria qualquer bobagem, e a mãe recusando-se. Lá pelas tantas num artifício bem conhecido, já que os argumentos razoáveis estavam esgotados, soltou o famoso e sentido, mas afetado "Eu não pedi pra nascer"!
E a mãe olhou meio surpresa, e recomposta suspirou fazendo aquela cara desconsolada: "Eu também não minha filha"...

quarta-feira, outubro 19, 2005

As vezes fico imaginando como fazer fortuna... Não que dinheiro seja um prioridade, mas se eu tiver o suficiente posso me dedicar a coisas mais proveitosas do que ao trabalho semi-escravo.
Fico vendo essas estrelas do futebol ganhando milhões. Eu tentei, mas futebol não dá. Desde os tempos de colégio eu só era bom em ciências em geral e um pouco menos nas letras. Nas atividades sociais e esportivas eu era (e em grande parte ainda sou) um grande fracasso. Minha formação não me impede de ofender e brigar, mas vejo algo de desprezível em explorar meu "semelhante". Não tenho parentes ricos. E ainda por cima não jogo na loteria.
Salvo algum insuspeito imprevisto, pareço estar condenado a eterna labuta do "operariado".

sexta-feira, outubro 14, 2005

Eu sou uma espécie de antropólogo amador. Não tenho nenhuma formação na área, nunca li nada mais profundo no assunto, mas gosto de me dar este "título". Toda oportunidade que se apresenta, estando eu gosando de um mínimo de paz de espírito, me debruço nesta fascinante jornada.
Há muito tempo não folheava os classificados, por muitos quaisquer, me deparei com ste curioso depósitario de esperanças humanas. Imóveis para locar, empregados que se oferecem, pessoas solitárias em busca de companhia, companhia em busca de sustento, pagamento de promessas, oportunidades únicas (como plantar cogumelos e ficar rico...), toda espécie de servíço místico... E toda sorte de arranjo e negócio.
A esquina dos aflitos, graças a Gutemberg.

domingo, outubro 02, 2005

A cada dia que passa confirmo algo que estou cansado de saber. Sou um outsider, um marginal. As coisas me parecem estranhas, as pessoas me parecem estranhas. e sei que pareço estranho a maioria. Achei curioso que algumas pessoas se referissem a mim como "o cara que lia livros estranhos". E continuo lendo... Apesar de que hoje em dia ler já é algo estranho... E olha que eu tenho tentado ler os clássicos... Seja da literatura ou da filosofia...
No início eu me incomodava em ser diferente. Hoje me dou mais que satisfeito. Vendo as coisas como estão, acho razoável não me encaixar.

sexta-feira, setembro 16, 2005

Eu sou um escravo da Razão. E como sabem Dona Razão é uma senhora rígida! E Sinhá é muito ocupada, vive viajando por seus domínios. Nas suas raras visitas me esforço em prestar atenção e entender suas ordens. Nos primeiros dias vamos bem, aí as coisas vão ficando confusas, sabe como é... O corpo é forte, o juízo é fraco e os apetites, vorazes...

quinta-feira, setembro 15, 2005

Diário de um piqueteiro

Desde que comecei a bater cartão estou caminhando a passos largos rumo a revolta proletária. Hoje por exemplo, investi minha tarde manifestando minha indignação com o desrespeito ao meu trabalho, lutando pela valorização e pela dignificação do mesmo.
Marcaram de reunirmos na porta da Santa Casa e algumas horas depois do combinado já tinhamos massa suficiente para obrigar os trauseuntes a ter de andar na rua. Com alguma hesitação, iniciamos a marcha. Para onde? gritava a turba indignada. Para as clínicas! E lá ia o cordão... Mas primeiro esperamos o sinal de pedestre abrir. E assim fomos, apitando, mostrando faixas com nossas demandas e principalmente, respeitando as leis de trânsito... E assim fomos fazendo o circuito dos hospitais, chamando os colegas para a luta. E evitando ser atrapelado pelo trânsito pesado da Alfredo Balena. E nada de imprensa... Sugeri queimarmos uns pneus, outros queriam apredejar umas janelas... Mas no fim ficamos só nos apitos e faixas. Alguns populares se juntaram a marcha, até me lembrou a marcha final de "O Grande Mentecapto". Chegamos ao CRM e ficamos ali fazendo barulho na Afonso Pena. Um mais inflamado subiu num caixote e proferiu um discurso, configurou-se o ato. Alguém deu uma idéia "Quel tal uma cerveja"? E o movimento tomou novos rumos.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Acho que uma das coisas mais importantes é saber diferenciar preço de valor. Sei que muitas pessoas se vangloriam de suas grandes propriedades, de suas fortunas e de seus bens. Para isto eu não tenho a menor paciência. Aprendi com meu pai que o dinheiro só tem valor por que custou a alguém tempo e esforço. O valor das coisas está em grande parte no que é necessário para obtê-las. Meu avô costuma dizer que quem trabalha não tem como ficar rico, apenas se fica rico por meios ilícitos ou explorando o trabalho alheio... (o que certa forma é considerado por alguns de roubo... Dá-lhe Marx...)
Experimente toda vez que estiver balançado a comprar alguma coisa não essencial, em converter o preço em horas trabalhadas... É só ver se valeu a pena.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Certa feita perguntaram a Platão o que era o homem. No que o filósofo retorquiu: "O homem é um bipede implume". E, essencialmente, ele está certo. Mas um espertinho reretorquiu: "Então um frango resfriado também é um homem"! Eis aí o problema dos modelos e definições. Como tornar algo tão óbvio em palavras? Modelos e definições são utéis apenas em contextos muito específicos...

sexta-feira, setembro 02, 2005

Quando estive em Roma, além de ver o Papa é claro, vi muitas das coisas que todo turista deveria ver. Em piazza Navona, Roma me sorriu e me ofereceu um euro. Dizem que achar dinheiro é sinal de sorte... Quando cheguei em Fontana de Trevi, devolvi a gentileza. De costas para a fonte, pensei em algo que merecesse um desejo sincero e de volta a Roma o euro foi. Uma contribuição e tanto, já que a fonte estava coalhada de moedinhas muito menos nobres...
Eu não acredito em fontes, desejos, favores de santos, cílios no sutiã e essa sorte de crendices. Mas todo oportunidade em que me vejo frente a um destes eventos, nunca desejo nada para mim. Penso em alguém em que me importo e gasto a minha ficha. Há algo de profundamente imoral em um adulto saudável, gozando de perfeito juízo mental se fiar no sobrenatural para ser feliz.

quarta-feira, agosto 31, 2005

Elogio a ressaca

De tudo que já li, acho que nunca vi ninguém exaltando as virtudes morais de uma boa ressaca. Seja pelo ineditismo ou pela verdade, vamos lá.
Todo conhecemos a ressaca. Mesmo que moralmente. O termo original refere-se a um fenômeno marítmo, a elevação das marés, com ondas maiores, e alguns transtornos ao derramar além do programado...
Mas falo da ressaca de outro tipo de "derrama". Essa vem após abusos e libações, ou mesmo após alguns comportamentos "incovenientes". Mas a sensação não é de todo ruim, pois para o "infrator" atento, ela tem dois lições morais de suma importância.
A primeira é: Deus castiga. Todos pagaremos o preço de nossos atos. Pode não ser instantâneo, mas nossos atos nos alcançarão.
E a segunda: Para o bem ou para o mal, sempre existe o dia seguinte.

terça-feira, agosto 30, 2005

Pode alguém se apaixonar por um tempo verbal? O fato é que estou fascinado com os "foi", "morreu", "acabou", "era" "mudou" e eteceteras terminados geralmente em "u". Eu amo o pretérito perfeito! É um fato que começou e já acabou no passado. C'ést fini! E não se fala mais nisto.

domingo, agosto 28, 2005

Maturidade... O que diabos é isto? Maduro... Todos sabemos que maduro é uma coisa que chegou seu tempo. Quem já comeu banana verde sabe perfeitamente a "anti-sensação". Mas afora as frutas, o resto é meio confuso com relação aos seus sinais de maturidade. Parece mais fácil avaliar retrospectivamnte. Alías, como todo o resto. Mas aí o momento já está perdido ou profundamente comprometido.
Pense nas coisas que já fez na vida, considere as coisas que teria feito diferente, ainda que em pequenos detalhes... Pensando assim, maturidade é uma consequência imediata do arrependimento. Mas por outro ângulo, pense nas coisas que deram errado ou aconteceram contra sua vontade, mas que se transformaram em gratas surpresas...
Amadurecer deve ser apenas isto, viver e continuamente aprender a viver.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Hoje foi um dia muito especial para mim. Quase um marco da minha vida adulta. Hoje, pela primeira vez na minha vida eu bati cartão de ponto. Achei que não precisaria fazê-lo nunca!
Eu nunca tive problemas com horários e vigilância, mas esse negócio incomoda um pouco... Gente te vigiando, papelim para provar o que você estava fazendo... Quer dizer, cartão não obriga ninguém a trabalhar, só a estar momentaneamente presente.
Já estou inclusive lançado uma campanha entre meus pares. Vamos fazer uma filiação em massa ao PSTU. Como a maioria de vocês sabe, quem bate cartão, não vota em patrão!

quinta-feira, agosto 18, 2005

Por vezes passo em frente ao pronto atendimento pediátrico. e fico reparando nas mãezinhas novas, algumas até bem apessoadas, que ficam por ali aguardando atendimento. E reaparo também nas crianças, cada uma com uma carinha melhor que a outra... E de repente eu me encho de pena. Não por que as crianças estão doentes, mesmo porque elas não estão. Tenho pena dessas jovens mãezinhas, que tem de sair correndo de casa em busca de ajuda. Fico imaginando a vida vazia, o marido ausente, a falta geral de sentido do serviço doméstico... Não que não seja importante, esta é uma batalha silenciosa e inglória. Mas a vida pede mais que isto.
Talvez não devesse sentir pena, afinal todo é fruto das nossas escolhas. Pena que muitas coisas pareçam boas idéias inicialmente, apenas para se revelar mais um engôdo.

domingo, agosto 14, 2005

Um dia, quando eu tiver tempo suficiente para tocar meus projetos "paralelos", ainda hei de escrever uma tese arquitetoantropológica que irá ter um título mais ou menos assim: "A influência italiana na decoração de interiores no Brasil, recriando o piegas".
Quem já viu Veneza sabe do que estou falando...

sábado, agosto 06, 2005

Vocês sabem o que é livre arbítrio? É a incrível capacidade humana de, seja em que circunstância for, haja o que houver e apesar dos desígnios divinos e os interesses das "forças ocultas", estragar qualquer coisa, não importando quão boa ela seja.
O preço da liberdade, é o erro.

quarta-feira, julho 27, 2005

De todas as coisas que orbitam nosso planetinha, a lua é com certeza a mais notável. Nossa dama de companhia realiza conosco uma complexa dança e de tão fina jamais nos vira as costas. Como nunca vimos diretamente sua outra face, alcunhamo-la de "face oculta", e de bobos que somos, inventamos um monte de folclore sobre esta curiosa coincidência astronômica.
Tendo cerca de 3500 km de diamêtro e uma massa 80 vezes menor que a Terra, ela certamente tem muito mais influência por aqui do que o esperado. Clareia a noite ate'certo ponto, regula marés, oculta o Sol de vez enquando para o desespero de alguns...
Mas a figura dominante nos céus noturnos tem outras esferas de influência! Simbolizando o mundo desconhecido e escuro que causa na maioria medo e insegurança. Com sua luz pálida, não permite que vejamos com clareza, nos permitindo enganos dos mais variados...
Seu comportamento cíclico forneceu aos homens uma das primeiras formas de medir o tempo. E neste ciclo mágico de crescer e minguar inspirou as mais diversas formas de influência sobre o homem e as coisas naturais, tais como plantas, pesca ou fios de cabelo...

sexta-feira, julho 22, 2005

Ficar em casa no meio da semana em pleno período "letivo" é algo que sempre me remete a mesma sensação. Doença. Não que eu tenha este hábito, adoecer ou matar serviço. Buscando na memória, sempre me afastei das atividades devido a algum mal, que não a pura e simples vadiagem. A sensação é estranha. Aquela vontade de fazer alguma coisa, o corpo esquisito, tédio doentio... Aquela sensação de cansaço pós febre... Tudo ruim. A casa estranhamente vazia... Ou aquela faina estranha da faxina, imcompreensível a quem está sempre ausente nestes momentos. Ficar doente me lembra produto de limpeza. E vice versa. Aquele zumbido de enceradeira...
Mesmo nas raríssimas ocasiões em que tentava me fingir de doente para cabular, e ainda mais raro, quando colava, a sensação é a mesma. Era como estar a parte do mundo. Era como ter caido atrás da escrivaninha.
E no dia seguinte aquele estranhamento. Parecia que tinha ficado congelado alguns anos. As coisas pareciam estar perfeitamente normais e fora do lugar. O universo ficava meio embaçado.
Eu nunca achei muita graça em ficar doente.

sábado, julho 16, 2005

Desde que era criança eu tinha o hábito de tentar entender como as coisas funcionam. Ficava lá observando e tentando compreender. As coisas não tem tantos mistérios, se comparadas as pessoas, é claro. Esta verve científica me acompanha desde cedo.
Há alguns anos atrás, montando estes quebra cabeças gigantescos descobri algo curioso. Eles são grandes placas de papelão cortadas por uma guilhotina especial. Mas o curioso não é isto. O padrão da guilhotina se repete... Ou seja de 20 em 20 peças temos duas peças "mecanicamente" idênticas. E como as guilhotinas podem ser usados em diferentes cenários, podemos ter peças de outros quebra cabeças que se encaixam...
Isto nos leva a 2 conclusões e uma anti-conclusão. Peças podem se encaixar mecânicamente mas distoar na paisagem. Mas se elas forem similares (como se forem 2 pedaços do céu) podem passar desapercebidas. O pior é quando apenas umas delas se camufla, nos deixando com uma peça que não se adequa...
A "anti-conclusão" na verdade é uma extrapolação do fato acima, também derivada do hábito de montar quebra-cabeças. É aquela pecinha que tem tudo para entrar no cenário, mas simplesmente não pertence á aquele lugar. Mas continuamos insistindo na esperança que ela entre.
E há todas as outras peças que não se encaixam, não combinam e ninguém nunca imaginou que pudesse ser diferente.

sexta-feira, julho 15, 2005

Dizem que afinidade é mais ou menos assim: Não importa quanto tempo se passou, as coisas continuam de onde pararam. É interessante reparar como tenho pessoas assim. E o mais curioso ainda... Eu tenho uns "dejá veus" de afinidade, gente que eu conheço a pouco e parece que sempre estiveram por perto. E olha que eu sou um sujeito de "poucos" amigos... As vezes eu sou sortudo, as vezes eu escolho bem...

terça-feira, julho 12, 2005

Algo aconteceu a cerca de uma semana atrás. Nada visível no mundo exterior. Continuo essencialmente o mesmo. Parece que algum fio solto voltou a fazer contato. Veja por exemplo: Voltei a me interessar por política! Eu disse interessar, não acreditar. Há mais coisas, talvez algum observador atento perceba...

quarta-feira, julho 06, 2005

Utilidade Pública

Irformo-vos que nem eu nem meu irmão queimamos ao entrar no Vaticano, nem ao ver Papa. Temos inclusive prova documental. Por vias das dúvidas, evitamos assuntos heréticos por lá.
Mas ficar no sol Italiano de matar velhinho por 4 horas ininterruptas... Isso queima. Me senti um verdadeiro peregrino penitente. Recebi a benção, ouvi sua santidade falar. Fiquei frustrado por que não trouxe nada que pudesse ser abençoado... E vendido...
Mas sua santidade é bem mais simpática ao vivo. As vezes o homem não é fotogênico...
A praça de São Pedro tava mais animada que muito show de Axé. O Papa é definitivamente pop.

sexta-feira, julho 01, 2005

A palavra falada é uma das coisas mais mistériosas que existe. Brota não sei de que profundezas, de sementes desconhecidas e terreno incerto. E brota do nada. Causa um efeito imensurável e desconhecido, apenas para desaparecer em brumas, assim como surgiu.
Há algo estranho em passar singelos vinte dias alheio a tudo que se considera cotidiano. De repente estamos de volta, e quem não se ausentou nem sentiu falta destes dias. Não há valor no cotidiano, ou simplesmente não nos damos conta dele?

quinta-feira, junho 30, 2005

O melhor de viajar ainda e voltar para casa. Como dizia Dorothy em o "Magico de Oz": "There is no place like home". E olha que ela morava no Kansas.

quinta-feira, junho 16, 2005

Dizem que "saudade" é uma palavra exclusiva do português. Não sei ao certo. Mas "com licensa" é uma expressão encontrada provavelmente em quase qualquer idioma. Estranhamente, os lusófonos se recusam a usá-la.

Preferências culturais...

segunda-feira, junho 13, 2005

Uma terra portuguesa com certeza...

Pois eh cah estou em terras lusitanas. Teclado sem acentos, portanto perdoe-me. Edito na volta. Lisboa ainda eh uma cidade muito bonita, apesar de todo o mal cuidado com ela. A cidade esta invadida por nossos compatriotas, e ha um clima beligerante entre portugueses e imigrantes. Aqui tambem tem xenofobices... Para variar a culpa eh sempre do outro... Fico aqui imaginando que nossos patricios sao europeus apenas por um detalhe geografico... Mas enfim, deixo o mal humor para a volta... Ha mais a ser comentado...

sexta-feira, junho 10, 2005

Então é isto... Férias. Parto desta, para uma melhor. Mas tudo indica que volto. Não esperem notícias minhas por aqui tão cedo. Vai saber, vai que lá não tem internet... Ou que eu não tenha notícia dela...
Vou eu e meu caderninho de notas. No volta, relatar-se-á o ocorrido.

quinta-feira, junho 09, 2005

Uma das minhas poucas lembranças da infância eram meus retornos do colégio. Sempre voltava meio enjoado, com dor de cabeça. Como adorava os balanços e suas correntes de ferro, sempre associei a naúsea ao cheiro metálico das correntes nas minhas mãos. Era diário, entrava no carro, andava dois quarteirões e começava tudo de novo.
Muito mais tarde fui me diagnosticar com "Vertigem parosxística benigna" também denominada por alguns como "cinetose". É muito mais naúsea do que vertigem, mas como o culpado é o vestíbulo, ficou com este nome. O vestíbulo é uma pecinha do ouvido interno, composta por três canais semicirculares, mais ou menos perpendiculares entre si para contemplar as três dimensões do espaço físico, recobertos internamente por cílios e preenchidos por um líquido. Sua função, além de produzir tonteira, é perceber os deslocamentos da cabeça. Desconfio que como automóveis não estavam nos planos originais do aparelho, algumas pessoas tem uma sensibilidade aumentada aos deslocamentos, gerando o nosso supracitado quadro.
Por mais estranho que possa parecer, isto só acontece quando estou de passageiro, nunca de motorista... Parece ter algo a ver com outros estímulos que inibem as frescuras do meu vestíbulo.
Como ando só a maior parte do tempo, passo anos sem lembrar que tenho mais este leve defeito de fabricação.
A esquina dos aflitos é uma denominação genérica para um amontoado de gente, de fato desesperada, tentando resolver seus problemas. Quando eu digo amontoado, não é força de expressão... Aquela babel, gente vendendo as poucas posses, gente dando show nas calçadas, gente esperando algumas oportunidades para bater umas carteiras... Qualquer coisa está valendo para essa gente...
Se eu não me engano tinha uma dessas na Carijós, perto da Praça Sete, mais ou menos perto do falecido e gigantesco Cine Brasil...

segunda-feira, junho 06, 2005

As pessoas tem o estranho hábito de me parar na rua e me perguntar por orientações. Vá lá que com uma certa frequência eu conheça o logradouro em questão. Mas não sei deixe iludir pela minha cara de nativo inteirado da geografia local! -Ah, esse tal ar blasé...- Eu não tenho a menor idéia de para onde estou indo.

Se é que estou indo a algum lugar...

sábado, junho 04, 2005

Na natureza apenas duas coisas foram feitas com o último propósito de serem alimento. Leite e frutas. Músculos foram feitos para contrair, fígados para metabolizar, folhas para regular a homeostasia e realizar fotosíntese, raízes para fixar, absorver e no máximo armazenar. Tudo tem uma função bem clara e se não fosse a selvageria da selva e a necessidade da sobrevivência, ninguém duvidaria.
O leite é um alimento produzido sobre encomenda. É o alimento ideal para o jovem mamífero. Desde que seja o da sua espécie... Adquirimos este estranho hábito de usurpar dos outros filhotes, para dar aos nossos. E vamos substituindo o nosso leite, adequado aos nossos, pelo dos outros, mais adequado aos outros... E não satisfeitos, pasteurizamos, diluimos, acrescemos carboidratos, proteinas vegetais, vitaminas para reinventar algo que a maioria das "nutrizes" faz naturalmente, praticamante de graça e sem riscos... E as frutas estão aí. Quem nunca viu uma mangueira carregada? Ainda me lembro de um religioso comentando sobre a fartura de Deus... Eu ainda fico um pouco surpreso ao ler as embalagens... Sabor artificial de laranja.

Reinventar a realidade... Especiezinha pretensiosa.

domingo, maio 29, 2005

Um dos males da Internet é a sua imprevisibilidade. Mal no sentido ilusão do termo. Fico imaginando quantas pessoas buscam na Internet a solução imaginária de seus problemas. É como ser um náufrago e ficar jogando mensagens em garrafas mar afora... Alguma é capaz de chegar a algum lugar, mas se socorro virá, é outra história... E ficamos aí, verificando sites, cadastrando em programas, checando e-mails, tudo na esperança que em meio a todo esse lixo, haja sequer um pequeno resquício de esperança de dias melhores. Como mágica...

terça-feira, maio 24, 2005

Estou finalmente me tornando um ser útil a sociedade. Saio de casa as 7 horas da matina ou pouco antes, ando feito um desesperado, brigo feito um louco, almoço correndo, continuo brigando e perambulando até muito mais tarde. A cada 2 semanas, 2 dias de folga. Que me deixam até certo ponto um pouco "vazio". Mas alto lá! Não me tornei um "workaholic"...
Não leio, não vejo televisão, não conheço gente nova, não ganho nem perco peso... Ganho mal...
Eu sei que soa monótono e enfadonho. Mas não é. Me sinto ótimo e me previne de ficar pensando em bobagens. Na maior parte do tempo pelo menos...

domingo, maio 22, 2005

Estranhos dias... Me sinto diferente. Aquela sensação ambígua de que eu quero que o tempo passe rápido, e ao mesmo tempo aquele martírio da sensação do tempo se perdendo.
Mais zen, mais zen... É como agarrar a água, quanto mais você aperta, mais rápido ela escorre da sua mão.
Tudo que eu preciso é deixar o caos fluir. Mu.

Maldito apego...

sexta-feira, maio 20, 2005

Portugal e seu povo me fascinam. Seu povo é até um impróperio, afinal temos muito de nossos patrícios... Há algo fundamental sobre lá que não consigo decifrar, uma espécie de poesia bruta, um lirismo selvagem. Sou um inapto lusofóno, mas amo profundamente a flor da Lácio. Afinal é de palavras que se constroí um povo... E desvendar um pouco da alma lusitana certamente ilumina algo sobre nos mesmos...

Enfim, vamos ver o que consigo apurar...

segunda-feira, maio 16, 2005

Sereias

Sereias eram criaturas metade mulher, metade peixe. E tinham o péssimo hábito de cantar para atrair os navegantes para os rochedos onde seriam devidamente devorados. O folclore está cheio destas figuras femininas devoradoras de homens. A Iara, as vezes também chamada de mãe dágua, morena bonita que canta para atrair os homens para as profundezas.
Parece que esta imagem esteve presente em diversas culturas. A figura feminina que, pelo seu apetite sanguinário, seduz e atrai os incautos, fazendo com que estes joguem seus navios de encontro as rochas, jogando seus destinos nas profundezas de mar.

quarta-feira, maio 11, 2005

Peço desculpas aos meus parcos leitores. Queria escrever coisas mais inspiradoras, mais leves e quem sabe até um pouco poéticas. A que minha pouca poesia permite... Nada de pretensões...
Mas tenho estado mais amargo que o normal. O dia a dia não ajuda, não tenho para onde correr. Não tenho lido nem feito quase nada inspirador.Então tenho evitado me lamuriar, não quero ninguém pensando em se matar por aqui... Cada dia que passa vejo que a vida é uma merda, mas uma merda que vale a pena. Para os que tem coragem.

quinta-feira, maio 05, 2005

Ah boliche... Nada como fingir ser vagabundo uma vez ou outra e jogar boliche durante a semana... Afinal os preços são proibitivos durantes os finais de semana...
Seis partidas depois, alguns chopes e muita grosseiria, nada como acordar com o braço doendo no dia seguinte. Davamos inveja no resto da turma nas outras pistas, aqueles caras que trazem a bola de casa e só jogam com efeito.
É uma das poucas coisas em que tenho prazer em fazer mal.

quarta-feira, maio 04, 2005

Nada como um dia cinzento para praticar queda de braço com o despertador. Ele toca, você aperta soneca. Ele toca você aperta soneca. Eu duro poucos rounds. O despertador é um mensageiro imbátivel do mundo que urge lá fora.

terça-feira, maio 03, 2005

Seu Bilé

Seu Bilé é uma figurinha curiosa. Sessenta e poucos anos, bebe, fuma e peloque dizem seus familiares tem uns problemas de cabeça. Até usa Gardenal. Dizem que ainda usa drogas... Mas essa figura mirradinha deu entrada no hospital com um quadro de peritonite aguda, causada por uma perfuração no estômago. Operado, assutou o cirurgião com a lesão, que o cirurgião logo diagnosticou como "maligno". Mas o patologista descartou, péptico. Do bloco para o CTI, do CTI para o tubo, do tubo para o ventilador. Traqueostomia, jejunostomia, a cicatriz cirúrgica abre. E seu Bilé lá. Impávido. Mal dava bola para ninguém. Quer dizer, quase ninguém. Quando a fisioterapeuta estava por perto, nem tirava o olho. E seu Bilé ia melhorando. Saiu do ventilador, saiu do CTI, tirou a traqueostomia. E quais foram suas primeiras palavras? Quero um cigarro.
E lá vou eu diariamente, preocupado, ver aquela titiquinha de gente. Fica lá deitado meio de banda na cama, todo cagado. Nunca me perguntou o que teve, nunca quis saber se era grave, nem mesmo se tinha câncer. Só quer mesmo saber quando é que vai poder tomar uns goles.

domingo, maio 01, 2005

Mofo. Um dos principais motivos pelo qual alérgicos, como eu, devem ficar longe das coisas passadas.

Mas alergia não é sinônimo de sabedoria.

segunda-feira, abril 25, 2005

A medida que o tempo passa vou vendo como aprendi lições importantes no exército. Profissionalmente foi um fracasso, mas nas demais possibilidades foi bem proveitoso.
Há por exemplo a grande lição da marcha e do campo. Além do básico, tudo mundo pode levar o que bem entender. Desde que carregue. Fiz apenas uma pequena marcha de 6km. Oficiais tem algumas regalias... E carregar uma mochila pesada é o pior da marcha. Fico aqui tentando imaginar uma marcha da infantaria, 24km, equipamento completo...
Essa lição nos leva a um corolário, leve só o estritamente necessário. Ninguém se importa de levar 300g a mais de agasalho para uma noite gelada no meio do mato. Em termos materiais, nisto eu sempre fui muito bom. Minha dificuldade é transcender a lição. Tenho coisas que carrego comigo, não me tem mais serventia, mas que simplesmente não consigo abandonar na poeira do caminho.

domingo, abril 24, 2005

Ah o declaração para o imposto de renda... Para variar não sei se fico alegre ou triste. E explico! Invariavelmente, sou restituído. Não sei se me alegra o fato de receber um dinheiroque eu não contava, ou triste pelo fato do estado me cobrar tanto, que chega ficar constrangido e me devolve uma parte.
Funcionário público é isso aí... Desconto direto na fonte sem direito a choro. Não tenho nem a opção de sonegar... Tá vendo esse estadão aí, funcionando lento, gigantesco e falido? Pois é, sou eu que sustento... Nada mal para quem anula sistematicamente o voto.
Acho que descobri porque a tal classe média adora cockers... É tudo um processo de identificação. Eles são festivos, alegres, sociáveis, fofos e absolutamente estúpidos. E não fazem perguntas relevantes!

quarta-feira, abril 20, 2005

É. Sempre ouvi falar que depois de um dia, vem outro dia. E depois mais outro, mais outro e assim por diante. Só não me dizem o que vem no fim destes dias. E não me entendam como inquieto com as últimas incertezas, falo das coisinhas mais corriqueiras, não da viagem final.
o tempo tem se tornado paradoxal para mim. O dia voa, a semana se arrasta e quando assusto lá se foi o mês...
Mas como o tempo é apenas uma ilusão de uma espécie que preferiu viajar em direção ao caos...

domingo, abril 17, 2005

Digitando deste mesmo ponto de vista, pelo sobreolho vi esgueirar-se corredor afora e ao redor, um pequeno vulto. Não tornei o caso nenhuma emergência. Estou cansado de saber que não só eu assombro meus calabouços. Checagem sumaria e de volta as atividades habituais. Nada anormal. Mas o fato se repetiu e aquela luzinha amarela do inabitual acendeu. Divido de longa data meus domínios, ainda que algum incômodo e prejuízo próprio, com algum vertebrados inferiores. Suponho que até sustento alguns... Mas não parecia o caso. Parecia algo mais acima na escala evolutiva. Intensifico a busca. Só pode estar se escondendo na máquina de lavar, já que não suportaria as agruras de morar num forno... Após os estresses habituais, vejo meus hóspede correndo pela área afora, apavorido. Um rato. Aquela miudeza inofensiva, e nada higiênica, correndo, justamente, pela sua vida. Mas ainda não foi desta feita. Me recuso a matar qualquer coisa que não me ameaça diretamente. Prefiro a ineficaz e trabalhosa reeducação. Passada a comoção, ele retorna para as profundezas de seu reino, a máquina de lavar roupa.
Investigações posteriores revelam que nosso pequeno invasor anda se fartando de ração para cachorro. Quem diria, meus mastim matador de gambás agora tem um sócio!

quarta-feira, abril 13, 2005

Em algum lugar da bíblia conta a história de Abraão e Isaque. Abraão já ia lá pelas tantas, com seus 75 anos e nada de filhos. Sara sua esposa, com seus 65 anos, era estéril. Então Deus prometeu a eles um filho, passaram-se então mais 10 anos e foi cumprida a promessa, nascendo Isaque. Um belo dia então Deus exige de Abraão sacrificar em holocausto seu filho. Esse Deus do velho testamento era fogo! E Abraão acatou... Criança no altar, faca na mão e tudo pronto. Eis que um anjo impede o ato... e ainda aparece um bode expiatório! Bom, um carneiro na verdade...
Fico aqui imaginando como é matar um sonho com as próprias mãos. Pena que não há muitos anjos para nos impedir e dizer que apenas uma pegadinha...
Ah memória... Sempre me traindo... Se desfaz das coisas que eu preciso e me azucrina com as que deverias desprezar.
Mas hoje não, aprendi minha lição. Bani meu fardo antes que ele se marcasse em mim. Agora só através da divinação, dom -que eu saiba- que não possuo.

terça-feira, abril 12, 2005

Já não posso reclamar que eu não tenho nenhum talento especial, algo que eu realmente sei fazer bem.

Devo confessar que eu sou realmente bom em desaparecer.

domingo, abril 10, 2005

Cartesiano reducionista...

Considere uma mesa de bilhar. A maioria das pessoas consegue imaginar ainda a bola vai eplo menos antes da primeira batida na tabela. Com uma certa frequência um iniciante se surpreende com o sucesso de algumas jogadas nem tão profundamente planejadas. A medida que o jogador amadurece, assiste e joga essas "oportunidades fortuitas" deixam de existir, está tudo planejado, não há surpresas.
O universo funciona da mesma maneira, só que numa escala muito maior, com uma infindável quantidade de variáveis. Se você conhece o jogo, você conhece os resultados.

Mas ainda assim, tem oportunidades em que tudo que se quer é estar equivocado.

quinta-feira, abril 07, 2005

Eu adoro eventos sociais. Quero dizer eventos onde tenho oportunidade de reparar nas pessoas incognito!

Hoje por exemplo:

  • Aprendi muito sobre a exposição de um popular sobre o método de billings para controle de natalidade. Fora o comentário "Eu nunca usaria pílula, não tenho como exigir isso da minha esposa"!
  • Arranjei mais um motivo para querer ter logo 65 anos! Além de precisarem dormir pouco, (acho isso invejável, apesar de dormir ser muito bom...) ainda tem o direito de furar fila! Melhor ainda era a compreensão de uma outra popular que dizia que não gostava de muxiba: "Já estão todos com o pé na cova mesmo". No que redarguiu sua interlocutora: "Eu não, eu sou chegada num coroa".
  • Onde há oportunidade há gente para explorar. Pagar 4 real num formulário que custa 30 centavos por exemplo. Ou pagar 15 para ter alguém na fila para você. E economizar uma meia horinha...
  • Conversei com porteiros e outros populares. Todo mundo tem um conhecido que pode facilitar algum processo. Todos muy poderosos e influentes.
  • Vi as pessoas chegarem pra trabalhar de camiseta, para vê-las todas engravatadas nas repartições... Preguiça ou cuidado? Jamais saberemos...

Pessoas ainda são o melhor objeto de observação criado até hoje. Se não fosse ranço deixado por alguns verborreícos presidentes deste país eu até faria Ciências Sociais (ou anti-sociais, vai saber...Misantropologia!)

sábado, abril 02, 2005

Toda vez que eu vejo essas crianças birrentas dando showzinho e levando os pais pelo cabresto eu só me lembro do meu velho pai. Quando eu me comportava como um pequeno déspota mimado, querendo subjugar o mundo a minha vontade ele simplesmente dizia: "Menino não tem que querer nada".
Democracia demais atrapalha. Quero dizer, democracia é quando as pessoas escolhem por que estão perfeitamente cientes das consequências dos seus atos e do peso das decisões. Ou seja, excelente sistema para funcionar no papel. E depois ainda tem a coragem de dizer que, fora as supracitadas crianças e deficientes, apenas os silvícolas são relativamente incapazes...

terça-feira, março 29, 2005

Engraço ver coisas de dez anos atrás. Achei meu passaporte antigo. Lá está minha foto da época. Parecia um ratinho faminto. Magricelo e orelhudo. Bem, orelhudo eu continuo. E pelo jeito vou voltando a magricelo. E a mesma expressão indiferente e impenetrável. Blasé, diriam alguns.
Mas não sou indiferente. Sou o mesmo rapazinho de 10 anos atrás. Tímido e triste.

sexta-feira, março 25, 2005

Religare

Como definir minha religião? Quando nasci meu pai (metodista) e minha mãe (católica não lá muito praticante...) optaram em não tornar-me nem uma coisa nem outra. E assim me deixaram livre para optar. Percebendo toda essa sabedoria desta decisão, embora só muito mais tarde, assim permaneço. Tive uma educação jesuítica, frequentei (ainda que incipiente...) a escola dominical, aprendi bastante sobre os simbolismos dos rituais católicos, me identifico com o zen (que quer dizer meditação) mas não acho muita graça no resto do budismo (só na parte nihilista). Tive meus parcos e rasos estudos do "ocultismo", e acho muito interessante suas simbologias (símbolos, símbolos... O homem é um animals simbólico... Uma besta quadrada simbólica...) , mas não me interesso com os "mistérios" transcendentes. Gosto mais dos reais...
E continuo sem saber de nada.

Isto me faz o que? Um homem livre, uma ovelha perdida, um pagão ou uma pessoa absolutamente normal?

Palavras...

terça-feira, março 22, 2005

De quando em vez sou obrigado a descer da minha torre de marfim e ver o mundo. Tarefa alías que me agrada muito, pessoas são divertidas de serem observadas.
Bem, estou em processo de renovação de passaporte e isto requer um complexo e delicado ritual social. Provar isto, provar aquilo, assinar aquilo outro, mostar mais aquilo... Uma maratona de papel, bem digna do dito mundo moderno.
Neste ritual estão as fotos 5x7, de paletó e fundo branco, com data. Me contive para não ir de bermuda. Lá chegando a mocinha me avisou: Sua barba do jeito que está vai marcar a fotografia. Pensei nos tempos em que eu realmente tinha de estar de barba impecável, calculei a chance de causar algum incidente diplomático internacional com o fato e dei de ombros.
E esperei e espreitei. Lá no espalho um rapagote fazia caras e bocas, ajeitava o cabelinho incansávelmente. Pelo jeito tinha de estar irrepreensível. Ao meu lado um outro com a mamãe: Ai mãe, eu quero foto com retoque! E correu para o caixa para pagar a diferença. O que a natureza castiga, o photoshop conserta.
Entrei para a cabine, me controlei para fazer uma cara neutra e manter o alinhamento. Também não precisa esculhambar tanto. Ainda bem que me contaram que passaporte é assim. Levou os documentos, está tudo correto, docuemnto emitido. Tenho que aproveitar, vai que esses malucos que ficam aí tentando melhorar a imagem do país no exterior instauram um patrulha estética na polícia federal... Só saio daqui fugido...

domingo, março 20, 2005

Assimetrias

Muita gente tem uma certa crença na simetria do universo. Vendo o mundo como dicotomia (bem/mal, claro/escuro, masculino/feminino...) é muito natural imaginar que todos estes opostos estão é harmonia. E dá-lhe yin-yang...
Mas para o observador atento é nitida a "desarmonia". Sua mão direita não é igual a sua mão esquerda. Há mais mulheres no mundo que homens (adeus também a teoria do chinelo/pé torto... Salve é claro as opções "alternativas"...). A terra não é redonda (nem plana...), mas achatada nos polos. O zero absoluto da temperatura está em -273o C e o máximo muito além e vivemos confortavelmente aí pelos 30oC. A matéria é composta de átomos e estes de prótons (massa e carga), neutrons (massa sem carga) e elétrons (carga sem massa)... Isso sem contar os quarks da vida...
Mas apesar deste "imbalanço" o mundo continua funcionando até que bem. Talvez a perfeição "matemática", não seja afinal a perfeição reinante.

E viva o caos.

quinta-feira, março 17, 2005

Ai que saudades das minhas certezas, das minhas soluções simples e práticas, da clareza com que o mundo se apresentava...

Política? Tirava de letra. Futebol? Resolvia tudo. Religião? Tudo simples! E ainda me sobrava sapiência para opinar sobre a vida alheia.

Veja só como estou hoje... Nem sei dizer mais se sou direita ou esquerda! Trevas, trevas, trevas...
E eu nem sei se quero ver essa tal de luz.

Só me resta meu retiro. Nenhum conhecimento é possível.

quarta-feira, março 16, 2005

Há de se refrear os desejos... Pelo bem geral! Se todos vivessemos ao bel prazer, em breve morreríamos todos a míngua. Mas que glorioso seria viver por uma breve semana enebriados pelas paixões mundanas, por que se o fizessemos por mais tempo, certamente seriamos consumidos pela miséria e pela praga. Ou pela loucura...

Tentamos criar ordem em meio ao caos...

segunda-feira, março 14, 2005

Veja o caso da água. Sempre vai onde é mais fácil, morro abaixo. Tens um obstáculo no caminho? Nada de pegar de frente, vamos contornando, infiltrando e lentamente corroendo, até chegar ao objetivo. Mas quando tem força suficiente...

Não somos todos um pouco assim? Afinal ficar dando de testa na mesma pedra, sabendo que ela não vai se mexer... Pena que não temos pra sempre, talvez ela cedesse...

Viver é teimar.

quinta-feira, março 10, 2005

O Barreiro tem algumas coisas singulares... Por exemplo, uma das mais belas vistas da Serra do Curral.

Pena que as casinhas avançam morro acima...

segunda-feira, março 07, 2005

Nada como um dia de trabalho quase estafante para espantar as macacoas.

Saudade é coisa de gente desocupada. Mas como doí.

domingo, março 06, 2005

Há muito o que dizer, mas as palavras parecem vãs.

Algumas verdades são tão óbvias que dificilmente conseguimos assumi-las e honrá-las.

Ou pode ser que não. Elas são verdades apenas por que resolvemos elegê-las como tal...

Nenhum conhecimento é possível, mas a vida clama por atos.

E aí? Vai deixar o terror das possibilidades te paralizar ou vai esboçar uma reação?

sábado, março 05, 2005

Pois é... Ando melancólico... Podia por letra de músicas, reclamar da vida, chorar a morte da bezerra... Mas vou só por uma tirinha...

sexta-feira, março 04, 2005

Essa deve ser a mais longa série de quartas-feiras da minha vida.

Mondo bizarro...

quinta-feira, março 03, 2005

Não há amanhã, só hoje. O que deixou de ser vivido hoje, para sempre está perdido.

Como e continuo faminto, bebo e continuo sedento. Mas o tempo é tão breve e o mundo tão grande...

Tão curta a vida, tão longa a arte.

Escolhas...

quarta-feira, março 02, 2005

Metáforas...

Há algo de sublime nas metáforas. Aquela capacidade de dizer e ficar não dito, aquele misterioso suspense em quem lê e não sabe ao certo o que pensar. Ela obriga o leitor a refletir!
Ela me parece com aquelas situações em que um moleque menor, que sempre apanha, indignado e impotente, resolve ofender seu agressor com a primeira palavra estranha que encontra. -Seu javardo! E o javardo fica ali estupefato, sem saber o que dizer ou pensar. Ofender sem ofender é uma espécie de glória pessoal. Mas a metáfora não é sobre isso. É apenas um uso, não muito nobre.
Metáfora é isso, falar sobre plantas, mas dizer sobre a vida, investigar mais a fundo o mistério. Insondável mistério... É libertar-se do comum, é transcender e compreender que tudo pode nos ensinar alguma coisa.

domingo, fevereiro 27, 2005

Estarei meio ocupado daqui pra frente. Não liguem, não é nada pessoal... Mas quero continuar escrevendo, o problema é a fonte secar...

Pois é passadoa a paralisia do terror, as coisas podem até vir a dar a certo....

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Bibêlo

-Oi Fulaninha! Conhece meu cachorrinho novo?
-Não Ciclaninha... Que gracinha!
- Pois é... Deu o nome de bibêlo pra ele...
- Que bonitinho... Sempre com essa carinha?
- Sim, quase sempre mostrando os dentes! Parece até que está sempre sorrindo!
E assim Bibêlo estava sempre por ali. Aonde iam, mostrado a todos. E nessa estranha submissão, em grande parte em respeito a sua dona ficava ali, sendo admirado, mimado e pageado. E continuava mostrando seu mistérioso esgar... Mas um dia ele emburrou.
- Ô Bibelozinho, mostra os dentinhos pra sua Ciclaninha...
E ele continuava impávido como um buda de pedra.
- Ah vai Bibelô... Cê era tão legal...
Então a criaturinha esboça uma reação, e uma espécie de quase sorriso logo se abre...
- Isso Bibêlozinho! Não bibêlo, não! Solta! Solta! Solta!

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

A vida é isso aí... Você passa um tempão batalhando e perdendo. Um dia desiste, faz outros planos, resolve mudar de vida. Aí ele te joga, de graça, nos planos originais.

Vida é o que acontece enquanto você faz planos...

Desvirou sozinha... Danada...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Pois é... La vou eu de novo, deliberadamente, virar as pernas da minha vida de cabeça pra cima... Estou ficando bom em capotar as minhas coisas. E bom em desvirar também! Se bem que eu só fiz isso duas vezes... Nas outras fui arremessado. Enfim, de algum jeito eu sempre ponho ela nos trilhos.

Mas que minha bile preta está me matando, isto está.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Semear é isso: enterrar uma possibilidade na esperança que ela brote.

Só resta esperar e aguar de vez em quando...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Dizem que pena é mais poderosa que a espada.

Na dúvida, pratique os dois.
"As vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia". Mario Quintana

Nada como desenterrar tesouros... Talvez nem tudo tenha sido desperdiçado.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Pessoas são como temas musicais em uma obra qualquer. Sempre aparecendo, com variações, mas essencialmente as mesmas.

É só prestar atenção.

Dialética, dialética...

domingo, fevereiro 13, 2005

Extremitas

Após semanas de extremo sofrimento, pacientes terminais, as vezes, apresentam uma grande melhora súbita. Apenas para morrer em poucas horas, deixando desorientados os familiares. Este evento recebe o nome curioso de "visita da saúde". A explicação, sem apelar para as místicas e trasncendentes, é que o organismo, exaurido de suas forças e incapaz de se manter lutando, se deixa arrastar pela doença, se entregando e desistindo do combate. Então cessa a dor e milagrosamente o paciente melhora, ainda que fulgazmente.
É como o afogado, que se debate desesperada e inutilmente contra as águas e em certo momento, exausto, se deixa envolver e invadir pelo seu algoz. O que se segue, segundo os que quase se foram, é uma sensação plena de paz.

domingo, janeiro 30, 2005

Ficar velho tem algumas vantagens. Tinha que ter, se não ninguém ficava por muito tempo. Uma que eu estou reconhecendo é a compreensão de como as coisas são volúveis. Por exemplo, eu me lembro quando Strogonoff (que era um conde russo...) ainda era um prato chique e para ocasiões especiais... Hoje virou sinônimo de praticidade... Ou ainda do coq au vin, que hoje ninguém nem ouve falar, ou ainda do pato com laranja (depois simplificado através do "frango" com laranja...).

E a lista é enorme... Afinal, como gostamos de inventar - e principalmente, copiar- moda.
Mas o arroz e feijão estão sempre nos pratos.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

As vezes eu acho que tudo que se precisa nessa vida é de um grande ato heróico. Matar um dragão, impedir uma avalanche, descobrir a cura da SIDA... Sempre funciona nas histórias. E depois todos vivem felizes para sempre.
Mas para a perplexidade de muitos, não há muitos mares vermelhos a serem atravessados, não há muitas hidras (e suas cabeças) a serem destruidas. Mas há quimericas quantidades de pequenos atos "quase" heróicos a serem realizados. Mas não espere os louros da vitória, honrarias e glórias. Estes são poucos e raros e os outros, muitos e corriqueiros.
Então vamos lá, de espada em punho, enfrentar nosso draconetes domésticos, nossos minotauros do cotidiano.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Carnaval vem aí. Felizmente eu não assito televisão e essas coisa só vão me afetar quase na véspera. Mas o carnaval é a grande ilusão. E até (ou principalmente) os sambistas sabem disso.

Mas eu não consigo fingir pra mim. eu não deixo de ser quem eu sou, nem por 4 dias. Talvez seja muito bom, por 4 dias, vestir uma fantasia qualquer, sair por aí bebendo tudo o que aparecer pela frente, transparecendo uma alegria incontível, fazendo coisas impensáveis. Só pra voltar pra vida besta depois e passar 361 dias amargurado.

Não consigo ver sentido em viver amargurado ou tresloucado. O segredo me parece viver algo no meio do caminho. Todos os dias. Datas só nos servem como marcos, pequenos lembretes de coisas que costumamos nos esquecer ou exagerar. A vida e o tempo vão indo alheios aos nossos marcos arbitrários.


segunda-feira, janeiro 10, 2005

Então acabou...

Para julgar os acontecimentos é preciso de distanciamento. O tempo é o melhor remédio, com ele vem a compreensão.

Não tenho problema nenhum com isso. O difícil é o "enquanto isso"...

sexta-feira, janeiro 07, 2005

É. Este ano vai indo de uma maneira bizarra e imprevisível. Por enquanto está divertido. Amigos do exterior, amigos do interior, amigos de outros planetas... Ou do meu, vai saber...

E apesar da rotina massacrante, eu tenho rido muito dessa coisinha singular chamada vida.

E agora José? Férias (relativas...) se aproximando em alta velocidade.

sábado, janeiro 01, 2005

"Numa natureza em que não existe regulagem não pode existir o bem"... Não sei se é do Tim Maia ( na sua fase "Racional") ou do próprio "Universo em desencanto". Mas taí um pensamento curioso...
Se desconsiderarmos o aspecto cultural das definições morais (sim, bem e mal são culturais... Além de relativos por vezes...) e observarmos a natureza, facilmente a classificariamos como cruel. Mas o mundo, este mundo, não é sobre coisas belas e fofinhas. É sobre sobrevivência.

Mas nós, seres ditos racionais, somos capazes, ocasionalmente, por breves períodos e através de seletos indivíduos, de transcender a bárbarie natural. E a turba vai se devorando...

"homo homni lupus"...